sábado, 5 de dezembro de 2009

FUTEBOL NÃO É GUERRA

Há uma semana postei um texto sobre a relação entre a linguagem do futebol e a guerra, a partir de metáforas utilizadas em narrações, reportagens, discurso de jogadores, técnicos e torcedores. Naquela ocasião, pretendia justificar a frase de Belluzzo “vamos matar os bambis”, não concordando nem discordando com sua declaração, que vejo como algo normal do futebol, embora eu não tenha gostado da forma e lugar do ocorrido, enfim...


O teor daquele texto me fez pensar em escrever algo sobre um assunto relacionado, assunto que curiosamente rendeu notícias e mais notícias durante a semana. Pensando na forma como a imprensa esportiva sensacionalista fez questão de abordar o “vamos matar os bambis”, forma tendenciosa de divulgação que provavelmente deu margem para o aumento do potencial violento dessa grande massa acéfala que existe entre torcedores de futebol, refletia sobre como é triste ver que o futebol e a guerra não estão relacionados apenas em questões de linguagem. Muitas vezes, no Brasil e no mundo, o futebol tem sido um esporte guerra.


Recentemente tivemos várias brigas dentro de campo, entre jogadores do mesmo time, como ocorreu com o Palmeiras e Bambis no último mês, o que não acho tão absurdo quanto brigas entre diferentes equipes – porque entre jogadores da mesma equipe, geralmente, é desentendimento e confusão apenas, embora a agressão seja algo feio, já entre diferentes equipes geralmente a briga é causada pela intolerância à derrota. Aliás, o grande problema do esporte: intolerância à derrota.


Torcidas costumam brigar também, é algo tão comum que nem precisa citar. Geralmente as organizadas, até mesmo do mesmo time, são as causadoras dos piores problemas, ficando até difícil reclamar quando são chamadas de “facções”. Mas também brigam com torcedores rivais, num show de intolerância. Para algo mais recente, basta lembrar-se do torcedor gambá morto nesse ano em São Paulo, durante a Copa do Brasil.


Outro problema é o tipo de cobrança que se faz aos jogadores. Não é incomum ver notícias, no Brasil e no mundo, de jogadores que foram encontrados em festas – mesmo que sejam reservas e talvez nem relacionados para jogos, que são agredidos por torcedores. Ou aquela velha história de sempre: torcedor que encontra jogador que está em má fase e aproveita para agredi-lo/ameaçá-lo. Eu gostaria de saber se esse povo realmente acha que tal atitude levará a alguma coisa.


Essas coisas, infelizmente, são cotidianas no futebol. Não adianta dizer que o evento “membros da mancha x Vagner Love” é algo isolado durante a temporada. Seria bobagem tamanha que nem preciso citar outros exemplos, só não vê quem não quer. E, embora seja a minoria que resolva “partir para a agressão”, ainda assim é algo preocupante, revoltante, lamentável. Violência, em qualquer lugar, não leva a nada e só degrada as coisas. E o esporte, bom, o esporte não deveria ter violência jamais. Há quem acredite que o esporte pode ser pacificador, mas não é o que tenho visto, gostaria de dizer o contrário.


Isso não vai mudar enquanto as pessoas não aceitarem que - embora elas tenham todo o direito de se importar tanto quanto queiram -, o futebol não deve ser assunto de vida ou morte, nem estar no pedestal das coisas mais importantes. E não vai mudar porque a violência é algo que apenas tenta-se camuflar, mas se estende a todas as facetas da vida, inclusive ao lazer, ao esporte, ao que deveria ser de alguma forma diversão e entretenimento para aquele que assiste, por mais que exista o lado da paixão. Além disso, há também a já citada questão da intolerância à derrota. É claro que no esporte o objetivo é a vitória e, geralmente, qualquer coisa diferente leva à decepção, ao desgosto de todos os participantes, inclusive espectadores. Porém, a vitória ou derrota também não deveriam ser assuntos de vida ou morte.


Aqui, percebo algo que considero fundamental: as pessoas precisam aprender a por o futebol em seu devido lugar, precisam aprender a apaixonar-se por coisas e pessoas sem para isso precisar consumir a própria vida – e as vidas dos outros, precisam aprender a conviver com as perdas, que é algo comum na vida, principalmente quando existe disputa envolvida. As coisas podem, e muitas vezes vão decepcionar e causar contragosto, porém, é preciso ter controle para que a decepção não se torne violência. Não há decepção, frustração, raiva, tristeza ou qualquer sentimento ruim no mundo que justifique atitudes de violência. Não há motivos para que o futebol seja essa guerra que vemos hoje, nada na vida deve ser assim, muito menos o esporte. Há pessoas que deveriam preocupar-se mais com outras coisas, a vida possui tantas coisas importantes para também se importar...


Sem julgar os membros dessa organizada representada pelos agressores de Love, gostaria de dizer que embora exista uma paixão alviverde pulsando dentro de nós, nos fazendo desejar sempre vitória e sentir as derrotas como grandes decepções, isso não justifica a violência, isso não justifica certas cobranças, certas agressões físicas e verbais. Isso não justifica colocar a vida a perder, colocar outras coisas importantes de lado. Não sei se o problema está na forma como se dá valor o futebol, ou na forma como se trata a questão da violência, mas sei que algo precisa mudar. É uma vergonha, para qualquer torcedor de futebol, ver a imagem daqueles garotos patéticos, presos por tamanha besteira e falta de algo melhor para fazer.

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