segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Palmeiras dá bobeira e empata com Ituano. Mas o mundo, e o Palmeiras, não acabaram

24 de janeiro de 1915. Foi a data em que o Palestra Itália fez seu primeiro jogo, conquistando seu primeiro título, a Taça Savóia. Aconteceu em Sorocaba, o Palestra fez 2x0 no Savoia, com gols de Bianco (o que o futuro tornaria irônico, era um jogador emprestado pelo Corinthians para compor o elenco Palestrino nesse jogo) e Alegretti. Foi um bom começo, para aquele que seria o Campeão do Século: Primeiro jogo, primeira vitória, primeira taça, tudo isso tirando a invencibilidade do Savoia.


24 de janeiro de 2010. Exatos 95 anos depois, o Palmeiras encara o Ituano em casa, pela terceira rodada do Campeonato Paulista 2010. Poderia, e deveria ser uma vitória empolgante e a liderança do campeonato. Mas não foi. O Palmeiras começou bem, embora com algumas falhas irritantes, principalmente de passes e desarmes, o que podemos atribuir mais à ajuda da união entre chuva e gramado mal drenado, do que a falha de jogadores – embora não possamos ignorar a existência de falhas. Tentar rolar a bola era quase impossível, visto que ela poderia parar em uma poça. Tentar lançar Diego Souza em contra ataque era difícil, visto que ele poderia escorregar. Tentar desarmar jogada adversária também era complicado, qualquer escorregada poderia garantir uma falta daquelas. Tudo isso eles tentaram, mas conseguir não estava tão fácil.


Mesmo assim, o Palmeiras dominava o jogo. Sacconi já esteve melhor, é um jogador que oscila muito e parece que cansa fácil. Mas quando está bem ajuda muito, principalmente porque libera Cleiton e Diego. Cleiton fez um jogo que oscilou entre aparições e desaparições, passes bem servidos para gol, o que é sua especialidade, e erros bobos em determinados momentos. Figueroa já esteve melhor. Nunca foi muito bom na marcação, mas nos últimos jogos têm errado muito os passes, cruzamentos, escanteios... Robert é um ótimo reserva e isso fica claro agora que podemos vê-lo jogar como titular. Não vou negar que gosto do cara, mas para titular precisamos de algo mais. Perdeu muitas bolas, se atrapalhou em vários momentos, com um pouco mais de qualidade poderia tranquilamente ter feito pelo menos mais dois gols. Aliás, o Palmeiras tem perdido gols demais. Isso, a meu ver, indica duas coisas: uma delas é que a pontaria precisa ser acertada, perder gols é normal em time que cria oportunidades, mas tem bobeada que não se pode aceitar. A segunda é que algo está funcionando bem, sim, porque prefiro time que perde muitos gols, mas faz 10 em 3 jogos, do que time que passa o jogo inteiro com duas ou três chances de gol e não faz merda nenhuma, ou com 300 chances desperdiçadas – coisa que chegou a acontecer há pouco tempo. Minha preocupação está mais com os gols que não deixamos o adversário perder.


E foi assim que, não ignorando falhas que precisam ser consertadas, o Ituano dava um sustinho ou outro de vez em quando, nada que realmente preocupasse, e o Palmeiras dominava o jogo, criava chances de gol. E enquanto a bola insistia em bater na trave, Asneiro lutava com a bola e os jogadores de verdade lutavam contra o gramado. Cleiton Xavier lançou Diego Souza em contra ataque rápido que resultou em um belo gol, aos 31 do primeiro tempo. Em termos de placar, o primeiro tempo foi só isso.


Segundo tempo sem nenhuma alteração de jogadores. Porém, já começamos mal. No primeiro minuto, em uma bobeada ridícula que envolveu pelo menos 4 jogadores do Palmeiras, Juninho Paulista marca para o Ituano. Danilo não conseguiu desarmar, Gualberto furou duas vezes, Juninho chutou a gol e bateu em Sacconi que tentou tirar a bola e jogou novamente nos pés de Juninho que, dentro da área chutou para o gol, surpreendendo Marcos. Foi uma bobeada tão geral que deixa clara a necessidade de acerto na defesa. Mas não foi apenas isso, o “melhor” ainda estava por vir.


Enquanto Armero esperava por sua aparição de gala, o Palmeiras tentava tirar o placar do empate. E o fez. O gol veio aos 11 minutos, Cleiton Xavier resolveu novamente aparecer para decidir e, em bela jogada pela esquerda conseguiu fugir da marcação e cruzar na cabeça de Robert, que dessa vez foi certeiro. Porém, 6 minutos depois, o péssimo árbitro – que por vezes ignorou ou inverteu faltas, e confundiu até tiro de meta com escanteio -, expulsou Gualberto, jogador praticamente estreante, de apenas 19 anos, vindo da base. Eu vi o garoto indo na bola, mas acabou fazendo falta que não era nem pra amarelo, principalmente a julgar pelo critério do mesmo árbitro em faltas do Ituano no Palmeiras. Com um a menos, o nosso grande problema ficou evidente: falta de banco. Gualberto estava substituindo Léo, lesionado. Edinho, que poderia improvisar na zaga, ainda não pode jogar por questões burocráticas. Sendo assim, o Palmeiras não tinha um zagueiro no banco, tinha um zagueiro expulso, e apenas o Danilo para segurar o barraco. Sorte nossa que foi o Ituano, tão ruim que se não fossem nossas bobeadas teria levado goleada, porque se fosse um time bom de verdade nós estaríamos amargando uma derrota ainda mais vergonhosa que esse empate ridículo.


“Se não fossem nossas bobeadas”... Pois é. Mesmo com um a menos, o jogo continuou como se o Palmeiras estivesse com 11, o Ituano com postura de time que joga com 10. Nossos jogadores já se mostravam cansados no ataque, é certo, mas continuavam pressionando. Por isso, Muricy mexeu no time sem fazer alterações, não que tivesse grande opção de banco para suprir a falta de um zagueiro, mas parecia que não iria precisar mesmo, de uma forma ou de outra o Palmeiras parecia que iria segurar a vitória... E foi assim que Cleiton, novamente, rolou a bola com açúcar, já dentro da área, para Sacconi marcar o seu aos 24 minutos. 3x1 estava ótimo, foi o suficiente até para o nosso treinador desistir de colocar Wendel, que já estava pronto na beira do gramado, e substituir Sacconi pelo estreante Joãozinho, garoto da base, que entrou mostrando personalidade e chamando jogo para si. Quem fosse embora do estádio nesse momento, não acreditaria no que veio depois.


O Ituano até que estava pressionando, o Palmeiras bobeava errando uns passes absurdos perto da área deles, mas ninguém esperava que, aos 35 do segundo tempo, acontecesse algo que revi umas 100 vezes e ainda não entendi. Juninho Paulista, livre, tentou um passe dentro da área, Armero e Danilo próximos, era só tirar, mas aquele que veste a camisa 6 do Palmeiras resolveu por um pouco de emoção no jogo, chutou a bola em Danilo que até tentou desviar, mas ela parou dentro do gol de uma forma tão ridícula, mas tão ridícula que eu prefiro continuar sem entender. Como se isso não fosse suficiente, aos 40 minutos, após cruzamento na área do Ituano, Figueroa e Danilo se embolam com Marcos. O Santo saiu, tentando dividida com o jogador do Ituano, acabou trombando com Figueroa que estava tentando a mesma coisa. Nessa jogada de “vamos deixar o cara livre pra cruzar e cair todo mundo pra cima do cara que vai receber a bola”, a bola caiu nos pés de outro, e o gol livre para o zagueiro Rodrigão marcar o terceiro deles. Os 22 torcedores que consegui contar lá na torcida do Ituano ficaram felizes. Nós fomos embora amargando um empate que, para ser boazinha, vou chamar de ridículo.


Voltei pra casa em um bom humor imaginável. Pensava no absurdo de não ter um zagueiro no banco, de não ter ninguém melhor para substituir Robert jogando mal, de ter Asneiro como titular do meu time. Pensava nas promessas de não sei quantos reforços, mesmo sem Libertadores, promessas não cumpridas até então. Eu aguardo, tenho paciência, mas não há como não me preocupar diante de uma necessidade urgente. Logo teremos jogos mais difíceis, e como será? Ouvia também as reclamações de outros torcedores, de gente falando que o negócio é gostar de futebol e não do clube, pessoas mais desiludidas que eu falando até em rebaixamento, ou então em “quando é que o Palmeiras vai ganhar alguma coisa?”. E enquanto amargava tudo isso, pensei nele.


Muitos não gostam de Oberdan por ele apoiar a “turma do Mumu”, mas eu prefiro pensar nele como o goleiro que tanto nos defendeu, e que chorou quando o Palestra foi sufocado por conseqüências ridículas de uma guerra imbecil, do que naquele homem velho e desgostoso, que fica do lado de quem lhe deu um pouco da atenção que precisava. Chegando ao Palestra ontem, olhei para os lados. Esperava encontrar um amigo, o Marcel, que não sabia bem em que lugar iria nos encontrar. Foi então que o vi, na calçada, aquele senhor. Parei, meu coração disparou, Vanessa também ficou ali parada comigo, sem reação. Quem tem a oportunidade de estar sempre por lá talvez não entenda o que sentimos, mas segurar a mão heroína de Oberdan foi algo que eu sequer sonhava, e que me fez valer o dia, a viagem, o cansaço...


Há exatos 95 anos começava isso que é a nossa paixão, o nosso vício, nossa insanidade, ou seja lá como você prefere chamar. É, já se passaram 95 anos, dentro deles tantas e tantas histórias. O Palestra, de forma dolorosa, tornou-se Palmeiras, Oberdan estava lá. Foram tantos títulos, vitórias grandiosas que nos renderam o maior deles, de maior Campeão do Século XX. Mas durante esse tempo, também houve derrotas tristes, empates vergonhosos com Ituanos da vida. E o Palmeiras continuou. Às vezes, passando por anos de glórias, depois anos de amargor, mas nunca deixou de ser o grande campeão. A vida é assim, a história é assim, não é uma via de mão única, seguindo sempre a mesma direção. Com o Palmeiras, não seria diferente. Não é sempre que as coisas dão certo, mas isso não significa o fim.


Olhar para o passado, pensar em Oberdan, em tantas histórias desses últimos 95 anos. Tudo isso me fez pensar em como, por tantas vezes, muitos torcedores ignoram tudo o que passou. Temos passado por anos difíceis, por muito tempo o Palmeiras formou times de fazer vergonha e dor, agora tem um time do “quase”, falta sempre alguma coisa ali, outra coisa lá, “quase dava para ser campeão”. E isso nos dói, nos aperta o coração, ansiamos tanto por esse algo mais que até entendo certas reações desesperadas. Mas se a história existe para alguma coisa, é pra mostrar que as coisas nem sempre acontecem como prevíamos, é para mostrar que a vida acontece de forma diferente do que imaginamos. Quem diria, hoje, que o primeiro gol do Palmeiras foi marcado por um jogador emprestado por cortesia pelo Corinthians? Será que, em 1942, Oberdan não se desesperou ao ver o Palestra correndo o risco de perder tudo? Quantas e quantas vezes, na década de 80, meu pai não amargou no fim de um jogo, sonhando em quando o Palmeiras iria reagir? Será que ele, que cresceu vendo a academia, iria imaginar o sofrimento que viria pela frente? E eu, que nasci nos anos 80, que em 92 aos 5 aninhos de idade quase desisti do Palmeiras, imaginava o que iria perder se tivesse desistido?


Não é a primeira vez que ficamos no quase, e sofremos a perda de um título que estava nas mãos, não é a primeira vez que faltam jogadores no banco, não é a primeira vez que o torcedor precisa se preocupar. Mas, se nesses momentos ruins não houvesse quem acreditasse e fizesse algo para mudar, bem como quem confiasse e tivesse a paciência de esperar aqueles que fizeram algo, hoje não existiria nada. Não teríamos o Marcos no gol, nem jogadores que, às vezes, mal valorizamos, mas todo torcedor queria em seu time um Pierre, Cleiton, Diego... Não teríamos nada, talvez nem o Palmeiras, ou então o Palmeiras não teria “nós”, seus torcedores.


Então, torcedor, preocupe-se sim, claro, a coisa não está tão bem quanto esperávamos e não sabemos quando vai melhorar. Mas não se desespere desse jeito, não diga que o Palmeiras é pequeno, que nunca ganha nada, que vamos acabar. Olhe para a história, olhe para trás, veja o Palestra, veja o Palmeiras, pense na Academia, mas não se esqueça que o Campeão do Século XX também passou pelos anos 1980. Desistir não é a melhor forma de resolver os problemas. E eu voltei para casa, 3 horas de viagem, pensando somente em voltar a ver o Palmeiras, jamais em desistir. Afinal, foi apenas um jogo e é o início de uma temporada. Há pela frente tantas histórias que desconheço, algumas tristes como não quero e outras mais felizes que as que desejo. Não há como saber, mas eu estarei lá para ver e viver o que vier.


Crédito da foto: Lancenet


3 comentários:

  1. Do jogo eu nem vou comentar para não cansar a minha beleza.

    Quero mesmo falar do Sr. Oberdan.

    Você falou com propriedade sobre ele não ter a ¨atenção que precisava¨. Ele é parte da história do Palestra/Palmeiras e muita gente insiste em tratá-lo como um ¨velho que fica lá vegetando no clube¨. Eu acho uma baita injustiça e talvez por isso ele esteja sempre tão ¨amargo¨. Não se trata de jogar confete, mas sim de tratar com respeito uma dos poucos ¨soldados¨ que participou daquela guerra ainda vivo, além é claro de ser um dos maiores goleiro da história do clube, para muitos, o melhor de todos.

    Talvez se as pessoas dessem a ele o reconhecimento merecido, ao invés de taxá-lo de ¨velho chato¨ as coisas fossem um pouco diferentes. Pior que tem muita gente que passar por ele e nem sabe quem é.

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  2. Eu concordo com você, é isso que penso também. Já tive alguma bronca do Oberdan, por ele apoiar o comedor de picanhas, mas depois a Mayara me fez raciocinar... E sabe, até a hora em que chegamos na lanchonete, eu estava segurando o choro. Eu não entendo, como as pessoas podem não valorizar, dizer que é pq ele reclama do time e não ve mais os jogos. Poxa, olha a idade do cara, está ali há 70 anos, viu tudo o que sonhávamos ver, teria tanto a nos ensinar e contar, e não recebe de muitos nem o respeito que merece. Aí aparece um Léo, que chegou ontem, e todo mundo cai pra cima... Fico pensando, se um dia eu tiver um neto e ele ignorar o Marcos, velho caduco mais chato que o Oberdan (pq será), e passar sem saber quem é, eu dou um castigo pra nunca mais esquecer.

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  3. Meu pai, que nem Palmeirense é, fala do Sr. Oberdan quase em tom de idolatria. Enquanto tem gente bocó dentro do Palmeiras que pergunta ¨quem é esse velho?¨

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