quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

TRÁGICO COMO UM TERROR GÓTICO

Quem poderia descrever o quadro de minhas emoções diante de tal catástrofe? Que pintor prodigioso poderia esboçar o retrato do ser que a duras penas e com tantos cuidados eu me esforçara por produzir?

Mary Shelley - Frankenstein


Mary Shelley conta a história de um jovem cientista chamado Victor Frankenstein. Frankenstein era um estudante obcecado. Começou com as ciências naturais, dedicou-se muito à química, depois se interessou por fisiologia e, com o tempo, estudava com afinco os processos de deterioração natural do corpo humano. Foi então que, por sua capacidade intelectual, julgou-se capaz de criar um ser vivo usando partes retiradas de cadáveres humanos como matéria prima. Ele criou, sim, esse ser. Mas, ao deparar-se com sua criação, percebeu que esta era nada menos que um monstro cuja presença ele não poderia suportar. Ele havia estudado tanto, se esforçado tanto, sofrido tanto para criar um sonho. Mas esse sonho quando realizado era um monstro, e era tão horrível que ele sentia terror ao ver o que criara.


Ontem, ao ouvir a entrevista de Belluzzo para a rádio Bandeirantes, lembrei-me de Victor Frankenstein. Tão preparado, tão obcecado, tão apaixonado. Mas criou um monstro, um monstro do qual sente pavor, ele mesmo disse, o time estava horrível. E o time é mesmo um Frankenstein, não tanto pela questão das partes que formam um todo estarem mortas, fora o Figueroa que parece em estado de putrefação, mas porque se trata de peças que não têm se encaixado direito, formando o aspecto aterrorizante de um monstro. O Palmeiras tem, sim, vários jogadores bons. O que falta são alguns outros bons, e reservas que saibam jogar pelo menos o que fazem alguns titulares. Porém, principalmente nesse último jogo, há outros problemas. Mas, se Marcos é Marcos mesmo em momento ruim, se Danilo, Léo e Edinho são bons zagueiros, se Pierre é incrível, se Márcio Araújo é um bom jogador que geralmente tem um bom passe, ajudando tanto no ataque quanto na defesa, se Cleiton Xavier e Diego Souza são meias que todo time desejaria, qual o problema com eles? Porque eles têm, sim, mostrado grandes problemas.


Os adeptos de teorias de conspirações, fofocas, bem como aqueles que gostam sempre de achar um grande culpado pra tudo, podem me condenar, mas não acredito que a vaidade de um, a briguinha de outro, boicote de jogadores em relação a alguém e etc., sejam motivos pelo que tem acontecido. Sei sim, é totalmente possível ocorrer algo do tipo em times de futebol, mas está claro que o problema do Palmeiras, se foi, ao menos agora não é de ciuminho, intrigas ou coisa do tipo. Os jogadores têm suas culpas, tem seus erros, claro que sim, nos devem muito principalmente pelo ano passado, mas não, dessa vez a coisa é maior. E realmente, toda essa desgraça não acontece toda por culpa do Diego Souza, como muitos insistem em dizer.


Ontem, depois de descontar toda minha raiva em relação à diretoria de futebol, ao técnico, jogadores, departamento médico, presidente, parte da torcida, imprensa, gramado e até o cara que fica gritando “olha o suveti” lá no estádio, resolvi pensar no futebol. E é algo simples, tão simples quanto trágico. Quem é o camisa 9 do Palmeiras? Sim, ninguém. E quem parece que estão tentando fazer com que seja? O Robert. Mas o Robert não é centroavante, ou ao menos não sabe agir e se posicionar como um. E então há o segundo atacante, que no caso tem sido o improvisado Diego Souza, que, não podemos negar, muitas vezes cumpre seu papel, faz boas jogadas, é o artilheiro do time, mas não é um segundo atacante, geralmente precisa de mais espaço, funciona muito melhor como meia. Talvez fosse o caso de ser um jogador que pode jogar nessas diferentes posições, já que durante o jogo a gente fica às vezes sem saber mesmo se ele está jogando como meia-direita ou como segundo atacante. Então temos Cleiton Xavier, é um bom jogador, embora tenha seus sumiços assim como Diego Souza. Só que no jogo de ontem, parecia que ele estava tapando o lugar do Diego, que tinha que tapar o lugar do Robert, que tinha que tapar o lugar de um camisa 9 inexistente. E quem tentava tapar o lugar do Cleiton Xavier, camisa 10 que na verdade é um volante muito bom na criação? Sim, Márcio Araújo que sabe cruzar menos que... Que o time todo! E isso significa que o cruzamento dele dói até em gambá. O cara pode ter um bom passe, pode ser bom tanto na marcação quanto um apoio na criação, mas não é a solução e, definitivamente, não é um meia de criação. Além disso, temos que louvar o Wendel porque, embora seja realmente limitado, e improvisado, tem sido melhor que nossos laterais medíocres. Armero é Armero, não importa a fase, mas Figueroa está num momento tão ruim quanto, basta ver que todos os times adversários usam e abusam de jogar explorando as incapacidades desse jogador. Pra variar, nossa zaga, composta por bons jogadores, anda atrapalhada, muitas vezes sem entrosamento, errando por bobeiras e preocupada demais com o ataque, o que faz com que a defesa fique frágil. Agora me diz se não são pedaços em desarmonia, tentando formar um todo que realmente não dá certo, lembrando o monstro aterrorizante de Frankestein?


Os caras estão jogando mal, mas por quê? Se a maioria deles são bons jogadores, porque um futebol tão ruim? Claro, o gramado atrapalha, mas mesmo assim não é tanto, do contrário os outros times também fariam tantas desgraças. Eu só consigo ver duas coisas: 1- Calendário. Com jogos sempre duas vezes por semana, não dá tempo para treinar e descansar como se deve. Todo mundo fala do problema do cansaço, uns defendem e outros criticam quem defende, achando que trabalhar em escritório causa tanto desgaste físico quanto jogar 90 minutos em campo pesado durante 2 vezes por semana, mas ninguém fala na falta de tempo pra treinar. Ainda mais quando viaja, quando é que sobra tempo para acertar todas essas porcarias erradas? Já diria minha antiga professora de piano: qualidade técnica é mistura de algum talento com treino exaustivo. 2- Está clara a falta jogadores ideais, para não ficar tanto no improviso. É clara também a falta de reservas para repor o que está bem – tanto fisicamente quanto tecnicamente. Mas também, não podemos negar, talvez desse pra tentar arrumar esse mesmo time de uma forma melhor, já aconteceu em outros jogos dessa temporada.


Isso me leva a crer que nessa história não há apenas um Victor Frankenstein. Há vários. Belluzzo, Cippullo, Toninho, Muricy, Traffic e sei lá mais quem. Houve a idealização de um time, mas saiu um monstro. Antes havia um monte de perebas, hoje não há ninguém. Onde havia um camisa 9 “pé de moça”, depois um filho da puta, há um cara que nem camisa 9 é. Antes havia um técnico desonesto e sem vergonha, hoje há um homem de pulso, porém teimoso demais. Antes havia uma diretoria nefasta, hoje há uma diretoria vergonhosa. Fizeram loucuras pensando que daria certo, não deu. Trouxeram nomes de peso, provavelmente por orgulho, mas eles não resolveram nada. Manter jogadores que poderiam ter saído também foi algo que não resolveu. As intenções podem ter sido as melhores, como as do cientista maluco que pensou poder criar beleza com pedaços de mortos, mas o que veio foi de dar medo e agora é preciso ter a coragem de mudar, resolver o problema criado, assumir os erros, sem orgulho, mas tentando limpar a vergonha da única forma possível: fazendo melhor. A desgraça não começou ontem, ela está acontecendo desde o ano passado. Não foi o suficiente para aprender? Porque eu estou vendo o mesmo orgulho, os mesmos erros se repetindo.


Confesso que ouvir o Belluzzo ontem foi de uma decepção sem tamanho. Enquanto o Muricy assumia erros de todas as partes - técnicos, jogadores e diretoria -, Cipullo só tentava fugir e mostrar o quanto é bom, visivelmente nervoso. Mas Belluzzo, parecia perdido, não sabia em quem por a culpa, criticou jogadores, coisa que nem o técnico faz, fugiu de assumir erros, colocou responsabilidades em quem não deveria, dizendo que um time não precisa de um camisa 9 e que a responsabilidade é do técnico e dos jogadores em se adequar. Mas no fim, acabou falando que a culpa é do calendário, que faz com que os times sofram, sobretudo o Palmeiras que não tem muita possibilidade de reposição. E a culpa é de quem pelo Palmeiras não ter essa possibilidade? Será que só a diretoria do Palmeiras não tinha conhecimento do calendário?


Coloque os erros dos outros, Professor, mas não se esqueça dos seus erros, dos erros daqueles que estão do seu lado. Puxe a orelha do teimoso Muricy, dos jogadores se fibra, mas lembre-se de puxar as suas também, da sua diretoria, porque de todos provavelmente vocês são os mais culpados. Nós apoiamos tanto, confiamos tanto... E quando é assim, a decepção é tão grande, a dor é tão profunda. Frankenstein fugiu e não teve coragem de lidar com o monstro que criou, não soube resolver o problema que ele fez existir. Isso acarretou na morte dos seus queridos, seu monstro matou aqueles que ele deveria ter aprendido a amar. Não deixem que o monstro de vocês nos mate, ou que matemos o monstro. Ele é horrível, mas representa o que amamos. Esses homens deveriam, e poderiam, ser o nosso orgulho. Eles poderiam representar a nossa alegria numa quinta-feira chata de trabalho, após os dias de descanso no carnaval. Mas não, eles têm sido nossa ressaca. E até mesmo nós, que realmente gostaríamos de ofendê-los, e de querer que sumissem, porque é muito mais fácil se decepcionar com jogadores, sabemos o quanto é difícil atacá-los quando há tantos erros piores sendo cometidos por vocês, aqueles em quem tanto gostaríamos de poder confiar.


Em tempo, esse texto foi escrito no começo da tarde e, no momento em que seria “postado” aqui no blog, saiu a notícia da demissão de Muricy. Parece que haverá mais informações em breve, mas por enquanto é isso. Pelo visto os boatos eram certos, havia mesmo essa divisão entre Muricy e Cippullo, um querendo o time de um jeito e o outro querendo de outro. Leia-se: o Muricy querendo criar um elenco, como fez no São Paulo, o Cippullo querendo continuar o que acontecia com o “profexô”. Não sei se isso é verdade, mas começo a acreditar, até porque dinheiro pra bancar multa contratual e (possivelmente) perder aquele patrocínio da camisa horrível que o Muricy usava, o Palmeiras tem. É, pelo visto a falta de jogadores passava por outros problemas, ou não, ou talvez eles estejam querendo mostrar serviço, e continuem fazendo desgraça. Eu preferia que o Muricy ficasse, precisava mudar em muita coisa, mas... E eu tenho muito medo do que virá... Só que saindo um dos errados não faz diferença se os outros não saírem, ou mudarem. É Belluzzo, espero queimar a língua, mas infelizmente duvido que isso ocorra: que decepção...

2 comentários:

  1. A cúpula resolveu demitir o Muricy; o Toninho entregou o cargo; e agora, será que o DS e o CX resolverão jogar? Pra mim, ainda que isso resulte num destempero momentâneo, a tal cúpula deveria colocar esses dois atletas da Tráffico na geladeira, e fazer que exista uma desvalorização de seus passes; qual técnico que quer enfrentar essa bomba? Sugestões.

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  2. qual técnico que quer enfrentar essa bomba?

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