sexta-feira, 12 de junho de 2009

OBERDAN, UMA SINGELA HOMENAGEM

Era um sábado agradável, ainda mais por estar no Palestra. Ali, onde os tons de verde se misturam, uma presença se impunha de maneira única. Alguém que doou sua vida ao clube do coração e fez história com uma camisa azul, com um imenso símbolo no peito. Sim, estou falando de um dos nossos maiores goleiros, Oberdan Cattani!


Ele é inconfundível. Usa o mesmo estilo de bigode e penteado há anos e parece sempre carrancudo. Hoje, completa 90 anos de vida. Uma data especial para alguém que mantém viva a sua história de amor com o Palestra-Palmeiras.


Quem conversa com ele percebe o orgulho que sente por ter vestido nosso manto. Ele guarda em sua carteira recortes de jornais com fotos antigas e adora contar sobre a história de cada momento. Para quem já teve a oportunidade de olhar nos olhos de grandes jogadores do passado, sabe que essa é uma emoção incomparável, quase mágica.


Oberdan casou-se na sala de troféus do clube em 1945. Alguém consegue mensurar o significado disso? “O Palestra Itália é a minha casa, o Palmeiras é a minha vida”. Palavras que demonstram todo o amor desse grande craque pelo clube e, por isso mesmo, merece ser homenageado e lembrado com muito carinho.


Nasceu em Sorocaba, onde era caminhoneiro, mas também jogava bola pelos campos da cidade. Foi convidado para fazer um teste no Corinthians. Felizmente, a família não quis conversa. Se tivesse que jogar, seria no Palestra Itália. “Não posso jogar contra. O sangue que corre em minhas veias tem as cores verde, branca e vermelha”.


Em 1940, conseguiu fazer o tão sonhado teste no Palestra. O técnico Caetano de Domenico arremessava a bola com as mãos. A primeira, lançou no ângulo. Oberdan defendeu com apenas uma mão. A seguir, arremessou por cobertura e, com um tapinha, o goleiro jogou a bola por cima. Na terceira, o treinador lançou com força esperando que ele devolvesse com um soco, como era tradicional. Mas Oberdan defendeu com uma só mão. Ele foi o único aprovado entre os 16 que participaram do teste. Só estreou no time principal em março de 1941, contra o mesmo SPR (Nacional) contra quem jogou no segundo quadro. Um detalhe marcante: ele não usava luvas.


1942 é um ano inesquecível para todos os palestrinos e Oberdan, como um legítimo, sentiu na pele todas as sensações da época. Tudo ficou marcado em sua mente: “As vaias não eram de futebol. Era muito pior. Era ódio. Até hoje ouço aquele barulho cruel. Vaiaram até a bandeira da nossa Pátria!”. Ele foi um dos primeiros a entrar em campo, segurando a bandeira do Brasil na mão esquerda, em 20 de setembro. 11 atletas, 11 heróis, seguiam os passos do capitão Adalberto Mendes, adentrando o gramado em que a luta os aguardava, enfrentando a torcida de seu inimigo, o mesmo que foi um dos maiores entusiastas da mudança de nome do “time dos italianinhos”.


Alguns dias antes, uma reunião no clube decidiu a mudança de nome, pois a pressão e o risco de perder seu patrimônio eram grandes. Sociedade Esportiva Palmeiras. Porém, o Palestra Itália jamais sairia do coração dos, agora, palmeirenses. Ou, nas palavras do palestrino Enrico de Martino: “O Palestra vai continuar toda a vida no Palmeiras”. Oberdan relembra o fato de maneira emocionante: “Ninguém falou nada. Ficamos mudos e revoltados! Sabíamos quem tinha pressionado pela mudança. Tudo gente do São Paulo. Estávamos tão preocupados que sócios montaram barricadas dentro do clube, para evitar qualquer tipo de invasão. Mas não havia mais nada a fazer, a não ser lamentar. Só me lembro de ter saído do salão da concentração junto com o Lima. Fomos a um canto e choramos. Choramos muito pelo que fizeram com a gente e com o nosso clube”.


“Só podíamos ganhar aquele jogo. Mesmo que nos custasse a vida”, palavras do arqueiro palestrino. Foi uma partida histórica, o dia em que o São Paulo fugiu covardemente de campo, o dia em que o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão. Por causa da inveja, ou melhor, do “olho gordo” do time do Jardim Leonor, Oberdan proferiu a famosa frase: “Corinthians é rival; São Paulo é inimigo”.


Oberdan vestiu a camisa do Palestra-Palmeiras em 351 jogos, de 1941 a 1954. Foram 207 vitórias, 76 empates, 68 derrotas e 409 gols sofridos. Ganhou 4 Taças da Cidade de São Paulo, 4 estaduais, 1 Rio-SP e a Copa Rio. Campeão do Mundo, sim senhor, e com muito orgulho!


Aos 35 anos, sofreu um duro golpe. A diretoria não o queria mais como o camisa 1. Deram-lhe o passe livre. Ele queria continuar no Palmeiras de alguma forma, seja como treinador de goleiros, auxiliar de preparação física, massagista, mas não queria sair de sua casa. Porém, o máximo que ofereceram foi a função de cobrador de recibos dos sócios. Sem muita escolha, a Fortaleza Voadora do Palestra negociou seu passe com o Juventus. No Campeonato Paulista de 1954, defendeu 6 dos 7 pênaltis batidos contra ele. Ele se lembra de um especial, contra o corinthiano Cláudio: “Ele chutou no ângulo e fui buscar com uma mão só”.


Quando jogou contra o Palmeiras, relata com emoção o ocorrido: “Não há palavras. Como não há como agradecer até hoje o aplauso dos palmeirenses. Eles torceram pelo time e, ao mesmo tempo, por mim. Afinal, não joguei contra o Palmeiras, apenas defendi o Juventus. Eu não queria ganhar do Palmeiras. Eu queria ganhar do Paschoal Giuliano”.


Parabéns pelos seus 90 anos, Oberdan! Obrigada por tudo que fez pelo Palestra-Palmeiras! Só temos que agradecê-lo por tanta dedicação e amor ao nosso clube!


Valorizemos o passado, reconheçamos sempre a importância dos grandes jogadores que honraram o nosso manto. Não somos os Campeões do Século XX à toa.


* Vejam as fotos que fazem parte da homenagem do Departamento de Acervo Histórico e Memória da S.E. Palmeiras e foram retiradas do site Palestrinos no link Galeria Passione Verde


** Fontes de consulta: Os Dez Mais do Palmeiras – Mauro Beting; Palmeiras, o Alviverde Imponente – Orlando Duarte; site Palestrinos e 3VV [link antigo].

2 comentários:

  1. Mayara, parabéns pela belíssima homenagem prestada a Oberdan Cattani, A FORTALEZA VOADORA, por conta de seu aniversário de 90 anos de vida e palestrinidade!!! Maravilha de texto!

    Beijos,
    Toninho Garcia

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  2. Grande Oberdan, parabéns para o homem que tem uma historia tão rica que se confunde com a do Palmeiras! Ele que participou de momentos tão memoráveis, que ficarão sempre guardados na memória dos palmeirenses, merecia mais. Merecia uma mudança de estatuto, uma estátua, uma homenagem por parte daquele que ele doou tempo e amor: o Palmeiras.

    Este é um homem que representa um momento histórico, quando o Palestra virou Palmeiras. E vieram tantos outros depois. Nossa muralha, nosso injustiçado, nosso herói. Parabéns é pouco, Oberdan Cattani merece muito mais! São 90 anos, dos quase 95 do Palmeiras, quase 1 século de vida da muralha palmeirense que virou velhinho corneta hahahahahaha

    Belo texto Mayarita!

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