quarta-feira, 12 de maio de 2010

MAIS UMA DESPEDIDA RUIM QUE PODERIA SER DIFERENTE...

Desde criança eu tenho o hábito involuntário de me sentir estranha quando um jogador importante deixa o Palmeiras. Goste dele ou não, seja um final “amigável” ou não. Penso que é algo normal, sou do tipo que geralmente, com exceção de alguns momentos entre 2004 a 2007, torce de forma ativa, como você deve ser, chegando a perder coisas importantes para ver um jogo ou para me preocupar com ele, tudo isso que você também deve fazer. Então a gente se acostuma a torcer por um cara, acompanhá-lo, querer que ele sempre esteja muito bem mesmo quando não gostamos dele. O jogador faz parte da nossa vida e isso é inevitável. Se ele vai embora do Palmeiras, fica aquela sensação estranha até eu me acostumar, não vou mais torcer por ele, não vou mais vê-lo em campo, não vou mais xingá-lo (isso provavelmente continuarei fazendo hehehe). Diego Souza faz parte da minha vida há dois anos, amor e ódio, sempre foi assim, nesse ponto ele é a cara do Palmeiras: sempre regado por altas emoções, sejam elas boas ou ruins, nada de paz e tranqüilidade, mesmo que, às vezes, seja somente isso que todos queiram por um tempo.


Pensando racionalmente, faltou coerência para os dois lados, agora opostos como não deveriam ser. Palmeiras (instituição e torcida) de um lado e Diego do outro, ambos lutando para saber quem é mais orgulhoso e ninguém pensando no benefício comum que seria resolver a situação de forma coerente. Sobrou intolerância, incompetência, impaciência... O cara chegou para ser o craque que não é, embora provavelmente fosse esse craque se tivesse um temperamento diferente, foi cobrado para ser o craque prometido e em poucos momentos correspondeu. Mesmo sabendo de sua instabilidade (um dia bom, um dia ruim, um dia mediano, sempre foi assim), foi cobrado como detentor de uma responsabilidade que, todos sabemos, não tem capacidade para arcar. Colocaram na cabeça de muita gente o absurdo de que ele não poderia ser coadjuvante do Valdívia, que besteira, sempre tive pra mim que Diego nos daria grande parte do que cobramos se fosse apoiado por um grande camisa 10 – vide o que ele fez ao lado de Cleiton em boa fase, mesmo Cleiton não sendo necessariamente um camisa 10 de verdade, mas naquele momento fazia bem seu papel.


Diego sofreu no Palmeiras até alcançar seu lugar, confiança, respeito. E quando conseguiu, foi tanto, que até Marcos queria que o rapaz carregasse o time nas costas, o “termômetro do time”, “Diego Souza dependência”, “se ele está mal, o Palmeiras está mal”, quem não se lembra disso? Soma-se essa responsabilidade toda nas costas de uma pessoa só (errado em qualquer circunstância, quem deixa a responsabilidade toda em uma pessoa só corre o grande risco de se ferrar, ainda mais quando a responsabilidade em questão exige trabalho coletivo para dar certo), a frustração de um sonho de qualquer jogador que foi sua ida para a Seleção da CBF, contusão séria de metade dos jogadores que formavam a estrutura do time (sendo que Diego e Cleiton dependiam muito do outro, e um deles foi o Cleiton), a queda de um time que era líder que causou problemas psicológicos e emocionais até hoje não resolvidos, problemas internos, ter que assumir quase sozinho a responsabilidade de um fracasso coletivo, agüentar a pressão e a reprovação de boa parte daqueles que deveriam apoiá-lo, etc., etc., etc... Deu no absurdo da troca de ofensas entre jogador e a própria torcida, o que não acho tão errado da parte dele visto que foi provocado – uma coisa é suportar vaias e reprovação, outra coisa é agüentar calado humilhação e ofensas públicas, ninguém é de ferro e numa hora ou outra a pessoa estoura.


A meu ver, a situação em si nem era tão agravante, mas o problema mesmo foi o que isso resultou, os caminhos tomados após esse acontecimento ridículo. Torcida burra por jamais acreditar em má fase – o cara é sempre chinelinho, sem vergonha, vagabundo, dentre outras coisas, já vimos isso acontecer até com Valdívia e Alex, jogadores que a mesma torcida clama pela volta ao Palmeiras. Jogador burro que acabou se desvalorizando ao não pedir desculpas, emocionando o pessoal que provavelmente iria perdoá-lo como aconteceu com Armero – afinal tudo o que a torcida quer é uma demonstração dessas, mesmo sem a segurança de sinceridade. Diretoria mais burra ainda, principalmente pelo status de alguns caras, “grandes intelectuais”, que deram péssimas declarações (muitas divergentes), não tiveram pulso, parecem perdidos e sem sequer saber o que realmente está acontecendo. Até a Traffic foi burra, pois pelas atitudes e declarações tem desvalorizado o jogador com que pretende faturar. Tivessem conduzido a coisa direito e, depois da Copa, viriam seus milhões. Agora a torcida precisa ouvir que seu jogador pode ir parar no maior rival (e eu duvido que se ele estiver no time da marginal sem número alguém vai lembrar que o queria fora daqui); o jogador corre o risco de ser esquecido em algum time “das Arábias”, em que vai ganhar muito dinheiro, mas jamais o reconhecimento e status com que tanto sonha; Palmeiras perde um jogador que poderia recuperar e aproveitar por algum tempo, sem falar no dinheiro que perde junto à Traffic pela desvalorização do passe. Eita nóis, haja burrice, haja vergonha...


Ao olhar o número 7 de minha camisa, que vesti no domingo sabendo que iria ouvir, e ouvi, umas 30 vezes alguém perguntar se eu não tenho vergonha, ou por qual loucura eu ainda tenho coragem de vesti-la, penso no jogador que me fez escolher aquele número. Penso em momentos como o jogo contra o Flamengo no Maracanã pelo Roubadão 2009, o golaço contra o Atlético Mineiro no 29 de Novembro que deixei de ir ao Palestra Itália e depois me arrependi amargamente, o comando das tão comemoradas dancinhas na vitória contra o Santos no Vergonhão 2010 – nossa única alegria deste ano. Mas penso principalmente naquele jogo contra o Sport lá na Ilha, Libertadores de 2009, depois de muitos nos humilharem e subestimarem. Ele, Diego Souza, nos avisou dias antes e não falhou, chamou a responsabilidade e fez um gol (e uma comemoração) que, apesar do final trágico do Palmeiras no campeonato e do final trágico da carreira do jogador aqui no Palmeiras, eu jamais irei esquecer. Naquele momento, mesmo que apenas naquele momento, Diego Souza foi meu ídolo, porque era ele quem eu queria ser, porque era aquele camisa 7 que esperávamos, o jogador com quem sonhamos, que desejamos ver com nossa camisa, e é uma pena que durou tão pouco.

Infelizmente no Palmeiras de hoje é assim. Temos que nos contentar com a alegria de um gol, de uma vitória empolgante, de uma resposta bem dada às provocações. Temos que ver bons jogadores indo embora de forma deprimente e precipitada, enquanto ficam os perebas que todo mundo louva pela “raça” e “vontade”, temos que aceitar tanta asneira sendo feita.


Pergunto-me se Diego Souza recebeu apoio tanto quanto necessário, tolerância tanto quanto necessária (Pierre e Cleiton, para citar bons jogadores, estão em fase tão ruim e ficaram devendo tanto quanto ele, mas recebem tolerância que Diego não recebeu), se foi ouvido e orientado corretamente, se o preparo físico estava bom, se não foi esperado e cobrado de um jogador muito mais do que ele poderia oferecer. Por outro lado, me pergunto se ele se esforçou realmente em treinamentos e no preparo físico, se realmente fez o melhor que seu estado físico e psicológico permitiram - mesmo que não fosse o esperado e o que é capaz de fazer em bons momentos, se ele não exagerou na reação após o último jogo, se não seria mais coerente ter feito as pazes com o Palmeiras e sair pela porta da frente mesmo que saísse. Me pergunto até quanto vamos ser tão impacientes e incompetentes, até quando vamos maltratar bons jogadores e depois pedir para que retornem. Mas sei também que eles não são santos, nem heróis, tampouco que foram embora contra a vontade enorme de ficar (mesmo que houvesse, talvez, algum desejo de ficar mais um tempo, só vi um desses caras implorar e fazer de tudo para não ir embora), todos querem mesmo é dinheiro e bom lugar para trabalhar tendo sucesso profissional e financeiro - não considero errado, também quero isso no meu trabalho, mas será que vamos ter que nos acostumar com finais como esse?


Será mesmo que Diego já não estava mais “nem aí” para o Palmeiras? Não defendo jogador que não seja o Marcos, mas essa foto do post é provavelmente a última imagem que teremos de Diego como jogador do Palmeiras durante jogo do Palmeiras, qualquer outro jogador seria exaltado por isso já que torcedor adora ver essas demonstrações. Nesse exato momento da imagem, vendo o jogo, me parecia que enquanto ele pensava na vitória a torcida estava mais preocupada em ofender um jogador que nem tinha atuado mal naquele dia. E só me resta pensar se não era dispensável toda essa intolerância, das duas partes, todas essas verdades criadas (jogador sem vergonha x torcida que joga contra). Não deu certo, machucou, decepcionou, mas poderia apenas ir embora encontrar outro lugar para ter sua paz, e quem sabe felicidade, enquanto encontramos outro para nos trazer alegrias. Há diversos motivos para queda de rendimento no trabalho, principalmente quando a pessoa não é tudo o que se espera e se cobra dela, principalmente quando o momento e a situação não são favoráveis (Palmeiras não está bem, o time todo não está bem), nem todos esses motivos são causados por falta de respeito ou comprometimento. Por outro lado, há diversas maneiras para se agir perante um tratamento desrespeitoso, maneiras menos intolerantes que dar o troco, virar as costas e ir embora.


De tudo isso, ficou um final incomodo e constrangedor em que ninguém está certo, todos erraram, todos em algum momento ficaram chateados. Particularmente, eu gostaria que houvesse respeito recíproco, não gosto de separações movidas pela raiva. Apesar das decepções, desejo que Diego encontre seu lugar de alguma felicidade, e que o Palmeiras (isso é bem mais difícil) aprenda alguma coisa com mais essa história ruim que poderia ser bem diferente. É, poderia...



Créditos da imagem: facebook da Adidas, album da vitória de 1x0 do Palmeiras sobre o Atlético GO, no Palestra Itália, pelas quartas de finais da Copa do Brasil 2010.


5 comentários:

  1. Torcida ignorante. Maria vai com as outras que ficam fazendo fusquinha e cuidando da vida dos outros. ¨Ai, fulano é baladeiro¨, ¨ui, beltrano é mulherengo¨.

    Torcida burra que já chamou Alex de sonolento, Marcos de vendido e Valdívia de jogador de youtube.

    Essa corja merece gente tipo obina, maurício, enilton, correa, denilson, martinez, jumar, michael.

    Pronto, falei!

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  2. E minha camisa verde de 2009 é nº 7 porque foi comprada logo depois do Diego ter picado o rodo no brucutu do santos. Não é segredo pra ninguém.

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  3. Eu só sei que estã querendo acabar com Palmeiras.E nós não podemos deixar que
    isso aconteça,com tantos anos de historia
    termine assimm

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  4. Você devia mandar esse texto pra nossa querida e incompetente diretoria!
    Até entendo a nossa torcida revoltada devido ao futebol medíocre que está sendo jogado, mas a diretoria, pô? Devia dar apoio pros jogadores, pedir compreensão da torcida. O Ronaldo fez gestos obscenos e não vai embora. Ano passado, jogadores do São Paulo,assim como Obina e Mauricio brigaram em campo e não foram embora. Quantas vezes mandamos jogadores bons embora por uma merreca, por idiotices, pra aparentar a diretoria certinha que não aceita nenhum erro? Quanto tempo mais isso vai durar?

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  5. Perfeito seu texto, perfeito mesmo! Parabéns, um dos textos mais sensatos que li sobre tudo isso...

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