Por Renata Niemand
Tudo ou nada. Era o significado do jogo entre França e África do Sul, pela terceira rodada da fase de grupos. E depois de ambas as seleções mostrarem que foram para a Copa pretendendo o nada, foi o nada que conseguiram. Aliás, dizer que os franceses não queriam nada é uma maldade, pelo visto eles estavam muito interessados em altas emoções e numa grande revolução interna. E se de revolução eles ainda entendem, parece que esqueceram como se vence futebol. Já a África do Sul poderia até querer, mas como diz o velho sábio...
Durante os dias de preparação para o jogo, a turma do pé de uva treinou quietinha, com medo de ser a primeira anfitriã a não passar da fase de grupos. Já os bleus estavam precisando de emoção e resolveram brigar, fazer greve, redigir cartas de protestos, expulsar jogador, teve até gente se demitindo na federação de futebol... Se você acha que nos últimos meses o Palmeiras exagerou, a França mostrou em duas semanas que não fica muito atrás...
Nas imagens da preparação para a entrada em campo, dava para notar a tensão dos jogadores de ambas as seleções. Os africanos, que sempre cantam antes de pisar no gramado, estavam quietos em sua maioria, já os franceses (até mesmo os mais experientes, como Henry e Ribéry) tinham no rosto uma expressão que dizia “se eu não ganhar essa, é melhor nem voltar pra casa”. E pelo que conheço das duas seleções, não esperava muita pancadaria apesar do jogo ser importante (o que é comum por essas bandas de cá), mas um jogo que seria decidido no desespero - principalmente pelo lado francês que tinha a maioria dos jogadores mais experientes no banco. Do lado africano a inexperiência já parece geral de qualquer forma.
Os dois técnicos colocaram seus times em campo com várias alterações. Domenech resolveu cortar alguns rebeldes, inclusive o ex-capitão Evra (prometeu fofocar tudo dos “bastidores” da putaria francesa na Copa), que deu a braçadeira à Diarra, que por sua vez entregou-a a Henry assim que o atacante entrou em campo no segundo tempo – ou seja, estava difícil alguém querer a responsabilidade.
A correria não foi muita, mas o nervosismo... Aquela defesa sólida da França contra o Uruguai deve ter ido embora para Paris antes de Anelka. Falharam feio em um gol de ombro de Khumalo, aos 21 do primeiro tempo. Até então, os franceses estavam buscando jogo (sem grande perigo, é verdade) enquanto os bafana bafana observavam, mas depois do gol africano a coisa desandou. O meia Gourcuff foi expulso e a defesa francesa se perdeu ainda mais, o que acarretou em mais um gol aos 37 - em uma jogada bagunçada que terminou com Mphela entrando no gol com a Jabulani junto. A equipe africana, que é boba, mas nem tanto, aproveitou-se do desespero e falta de um jogador do outro lado, só que aquilo que tinha cara de goleada parou por aí.
No segundo tempo a França voltou mais calma, mais acordada, se movimentando melhor, mas não o suficiente para merecer a vitória ou até o empate. Domenech fez o que deveria ter realizado desde o primeiro jogo, colocou Malouda e Henry para jogar. Malouda não é nem um craque, Henry não é mais o mesmo, mas são superiores a Anelka, Cisse e Gignac. Porém, deixar os dois de lado e colocá-los só no segundo tempo do ultimo jogo, como quem diz “fiz merda, agora resolvam”, não iria adiantar. Até saiu um bom gol de Malouda aos 24 minutos, algumas boas chances foram criadas, mas os bleus não fizeram o suficiente para voltar à França ao menos com uma vitória. O grupo era fácil, o time não é ruim, com organização correta e bom comando, preocupando-se apenas com a Copa do Mundo e deixando a briga para depois, não seria tão difícil para a França ir adiante. Já a África do Sul, que no segundo tempo nem fez tanto esforço quanto podia para ampliar o placar, é só isso mesmo. Não há vuvuzela que resolva.
Tristeza dos dois lados num jogo, alegria dos dois lados no outro. Não vou comentar o que não assisti, mas com a vitória uruguaia por 1x0 sobre o México, os celestes conseguiram a primeira colocação e jogaram os simpáticos mexicanos para a indigesta Argentina. Não costumo torcer contra os hermanos, sei também que eles são favoritíssimos, mas desejo boa sorte aos mexicanos, principalmente porque depois do ano passado, quando sofreram humilhação e segregação na Libertadores por conta de uma doença que era mundial, eles merecem um pouco mais de alegria vinda do futebol.
Créditos da imagem: lemonde.fr
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