Por Renata
Depois da reação uruguaia, depois da África do Sul se candidatar seriamente a ser a primeira anfitriã de Copas do Mundo eliminada logo na fase de grupos, hoje os franceses passaram vergonha diante dos mexicanos. Como deve acontecer em boa parte dos grupos, a primeira rodada foi equilibrada e muita coisa será definida agora, a partir da segunda. Dessa forma, o pessoal acordou e começou a jogar bola como se disputasse Copa do Mundo. Não que o futebol de alguns times tenha melhorado em alguma coisa, embora outros tenha se acertado, mas no mínimo há disputas por vitórias e os jogos estão ficando interessantes.
A França não melhorou em nada, para ser justa é certo dizer que piorou. Se no primeiro jogo a defesa era sólida e o ataque nulo por conta da barreira uruguaia e da falta de criatividade no meio, hoje nem a defesa funcionou, quer dizer, os mexicanos e irlandeses gostaram. Ah, brasileiros também, porque a amarelinha treme só de pensar em enfrentar os Bleus, mesmo em fase tão ruim. O Brasil é tão freguês dos franceses que a única decisão ganha sobre eles foi há mais de 50 anos, sem falar que supersticiosos não acreditam nem em vitória brasileira caso a França esteja na Copa – isso porque em 94 e 2002 a frança não participou e foi eliminada na fase de grupos, respectivamente. Em 98 levou o título do Brasil e em 2006 fez justiça nos eliminando.
México entrou em campo disposto a tudo para recuperar os pontos que desperdiçou empatando com a África do Sul. Para tanto, organizaram a defesa deficiente da primeira rodada e o time jogou pra frente, querendo e chutando a gol – o que faltou no primeiro jogo.
Foi um jogo de muitas faltas e de pressão para ambos os lados – que geralmente ocorreu na base da correria e baixo nível técnico. Se no primeiro tempo o México teve cinco chances claras de gol em 25 minutos, nos 9 minutos do segundo tempo a França teve suas quatro chances. E o jogo todo foi assim, os dois lados colocando perigo, embora o perigo mexicano fosse bem superior devido à melhor qualidade de criação e à defesa francesa que, quando não dormia tratava de fazer faltas infantis.
Perdi as contas de quantas vezes algum atacante mexicano ficou sozinho na cara do gol por meio de rápidos contra ataques. Os franceses chegaram mais vezes ao ataque e tinham maior posse de bola, mas desperdiçavam as chances com insistentes tentativas ridículas de cruzamentos e algo que ouso chamar de chuveirinho. Quando havia tentativa de toque de bola, tabelas e jogadas ensaiadas, raramente dava certo e a impressão era de que falta muito treino e entrosamento. E se a tentativa de chegar próximo ao gol funcionava, faltava algo, ou melhor, alguém que soubesse fazer gols. E eu continuarei insistindo que esse alguém estava no banco. O outro alguém que faltava estava na arquibancada, já que desde Zidane a França não tem ninguém no meio capaz de criar bom jogo.
Domenech tentou mudar o time. Já começou o jogo tirando Ribéry da ala esquerda e colocando-o no meio, no lugar de Gourcuff, que deu vaga a Malouda – não é nenhum craque, mas joga com o time, ao contrário de Gourcuff. No segundo tempo ainda houve substituições, ridículas: mudar o ataque trocando o ruim Anelka por Gignac foi provar que o primeiro não é tão ruim assim, mesma coisa aconteceu com Valbuena entrando no lugar de Govou – isso quando a França já perdia de 1x0. Em minha opinião, novamente Domenech piorou um time que já passa por problemas, técnicos e fora de campo. A França que já não conseguia chutar bem ao gol, agora não tinha sequer um homem de referência no ataque.
Thierry Henry pode não ser mais o mesmo depois dos anos e problemas físicos, mas continua sendo um craque e apenas uma perna dele é melhor que os outros atacantes franceses inteiros. É reserva no Barcelona? Tinha gente ali apresentando futebol de reserva em time de segunda categoria sem nenhum bom jogador como titular. O motivo de Domenech eu não sei, mas não importa o motivo para ser estranho ter o seu maior artilheiro de todos os tempos no banco, ainda mais enquanto o time precisa de gols e não consegue fazer. Henry é a referência do time francês, é um cara que pode resolver, a mãozinha na classificação contra a Irlanda não justifica o banco, gols irregulares acontecem sempre, o árbitro está lá para anular, se for esse o motivo, melhor seria ter convocado outro.
Depois do primeiro gol mexicano, marcado por Hernández que ficou livre na cara do gol após lançamento de Rafa Marques aos 19 do primeiro tempo, e ainda contou com a saída louca e desesperada do goleiro francês, a França abriu ainda mais a defesa para buscar ataque. E, ao contrário de Domenech, que via tudo com ar blasé enquanto seus jogadores desesperavam, o técnico mexicano resolveu ganhar o jogo, e provavelmente a vaga, fazendo alterações ofensivas, como quando trocou Juárez pelo autor do gol. Entraram também Barrera, no lugar de Vela, e Blanco (sim, ainda existe!) no lugar de Franco. Blanco marcou o segundo gol aos 33 do segundo tempo, em pênalti infantil cometido pelo desesperado zagueiro francês, Abidal, que deu carrinho em Barrera – o pênalti não existiu, mas carrinho na área é pedir pênalti. Na torcida, os três mosqueteiros sofriam pela alegria dos Chapolins.
Justiça seja dita, o México tem o melhor time do grupo, mereceu vencer a França que hoje é grande só no nome, merece também a vaga. A França, que não merecia nem classificação para a Copa, provavelmente não passa da fase de grupos com justiça, pelo treinador burro, pelos jogadores que não colaboram, até pela ministra do esporte que arruma encrenca com jogador em plena Copa do Mundo e Federação de futebol que já assinou com novo técnico e mandou Domenech para a África.
Deu pena do capitão Evra, que entrou em jogo chorando ao cantar a bela Marseillaise, e saiu chorando ao notar que nem uma revolução pode salvar sua seleção nesta copa: precisa também de sorte, milagre, ou o que quer que prefira chamar.
* “o dia de glória não chegou”, referência ao hino francês, La marseillaise, que diz “o dia de glória chegou”.
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