Podem menosprezar a Sul Americana (apesar de agora ser diferente, devido a vaga na Libertadores), mas mata-mata que é futebol – e não essa porcaria de pontos morridos. A ansiedade, a expectativa, saber que raramente as vantagens tornam impossível uma virada. No mata-mata não existe essa dependência chata de outros resultados, as coisas precisam ser resolvidas de imediato, os perigos são maiores. Nosso encantamento pelo futebol é resultado, em grande medida, das emoções causadas pelo perigo iminente – que são levadas ao ápice em decisões assim. E como disse algum comentarista na TV – cujo nome não me lembro - em um jogo da Sul Americana: mata-mata é a cara do Palmeiras, é também a cara do Felipão. Eu penso que é mesmo a nossa cara, temos gosto pelo jogo em que é preciso lutar para conseguir a vitória de qualquer forma: seja pela técnica, seja pela garra, ou pela junção dos dois. Nosso técnico é o homem para isso.
Empolgado pela decisão, o Palmeiras lotou o Pacaembu: comprando todos os ingressos disponibilizados, a torcida atendeu aos pedidos do aniversariante Felipão (que ele tenha ótimos anos de vida pela frente). Pela festa, e pelo apoio, os torcedores participantes merecem parabéns, foi lindo.
Assim como o Palmeiras poupa jogadores no BRoubadão 2010, pelo objetivo claro de vencer a Sul Americana, o Atlético Mineiro privilegia a fuga da série B. Portanto, o time misto do galo já era esperado. E isso não significa facilidade, já vimos muitos times mistos surpreendendo adversários favoritos. Dorival Jr. quis apostar no erro do adversário, com dois atacantes abertos, jogando no contra-ataque. Estava claro que não iriam entregar jogo nenhum, e de fato lutaram até o fim. Se não foi o suficiente, Deola também precisou fazer suas defesas.
O Galo teve suas chances, mas o Palmeiras tratou de abafar marcando a saída de bola do time mineiro - quando não foi possível, contou com a precisão de Deola e os belos chutes ao alto dos adversários. Do lado verde e branco, no início do jogo, os jogadores buscavam aproveitar-se da chuva (e belos escorregões) com chutes na entrada da área – o que fizeram sem eficiência. E perdemos Valdívia já aos 15 minutos. O Mago sentiu a coxa após criar boa jogada, que Tinga não conseguiu concluir com gol. Saiu visivelmente abalado, deixando preocupação. Lincoln, que o substituiu, fez boa partida, esteve participativo e com bom passe - apesar de ter chutado muito mal a gol, assim como o Gladiador.
Está certo que ainda vemos várias necessidades nesse time. A lentidão por vezes é revoltante, as bolas perdidas que dão chances ao adversário (não é, Tinga?), a falta de precisão na última bola e no chute a gol. Muitas vezes falta encurtar os espaços, para impedir certos chutões e bolas espirradas que raramente dão certo. Mas vale a disciplina e disposição de jogadores que até no último minuto, assim como o jogo atento de Edinho e dos zagueiros, Danilo e Maurício Ramos, além do auxílio do zagueiro nas horas vagas: Luan. Aliás, se geralmente falta técnica, sobra vontade e determinação a Luan. As jogadas pela ponta esquerda raramente empolgam, mas é inegável que o atacante tem sido ótimo apoio na marcação. E ajudou bastante no ataque também.
Sobre os dois gols, o time decidiu exatamente nos nossos momentos de maior preocupação. O belo gol, olímpico!, de Assunção, aconteceu no quando já nos desesperávamos pelo perigo de uma vantagem pequena (afinal, como esquecer do que aconteceu no primeiro jogo?); já Luan marcou o seu quando o Atlético parecia acreditar em alguma possibilidade de levar o jogo aos pênaltis, o que ocorreria no caso de 1x1. E aqui volto ao que falei no início do texto: a tensão de um jogo de mata-mata, o grito de alívio no segundo gol, a empolgação na vitória. É tudo como gostamos de ver e sentir. Ao contrário daqueles que reclamam ao ponto de esquecer a comemoração, eu vejo possibilidades, eu tenho confiança nesse título. Essa Sul Americana pode não ser o maior campeonato do mundo, mas tem resgatado sensações e sentimentos que há algum tempo estavam tão apagados entre nós... É muito bom assistir um jogo, ver a vibração dos jogadores, ouvir o canto da torcida em êxtase, e pensar: Isso é Palmeiras.
Créditos da imagem: UOL
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