sexta-feira, 6 de maio de 2011

UMA PAIXÃO É UMA PAIXÃO

Estou para escrever aqui desde domingo. Não havia tempo. E quando o tenho, vem junto um vexame para comentar. Não vi o jogo ontem, apenas ouvi alguns minutos que me foram possíveis. A rádio cortou antes do final, de modo que eu (sem TV e internet) fiquei até o horário do almoço com o número 5 engasgado. Engano. O número é 6. Não é nem pelo adversário, o “tamanho” dele não importa num momento assim, e nem estamos em condições de questionar o time do Coritiba. É que tomar uma goleada dessas acaba com qualquer um mesmo. Ainda mais um time que quase não perdeu durante o ano (foi a quarta derrota), que tinha tomado o máximo de 2 gols por jogo (em apenas 2 jogos). A derrota não era esperada, essa derrota jamais.

Semaninha ruim essa. Daquelas para esquecer. Daquelas que deveríamos esquecer, mas não vamos tão cedo. Complicado. Fosse ainda criança ou adolescente, eu não teria ido à escola hoje, choraria por horas, não falaria com ninguém, ficaria deitada na minha cama remoendo a dor e a frustração. Não sou mais criança ou adolescente, portanto hoje tive que trabalhar com cerca de 200 deles. Muitos palestrinos. Tristes, sofridos. Tristes como já estavam na segunda, mas hoje também humilhados. Alguns falaram comigo e me olhavam com aquela carinha de quem pede esperança. Não sou de ter esperança, mas vou lhes contar...

Ontem, durante o jogo, ainda 4x0 para eles, conversa entre meu pai e eu:

- Sorte é que dois bons jogadores deles nem jogam semana que vem, disse meu pai com rara expressão de esperança.

- Você acha que ainda dá?

- Se não pensasse assim, não torceria. O futebol não vale a pena sem acreditar no impossível.

- Se eles podem fazer 4 em nós lá, podemos fazer 4 neles aqui (detalhe: não vimos o jogo, mal ouvimos).

- É.

Quinto gol. Não sei se ainda restou esperança. Mas do que vou falar aos alunos? De mais frustração? Contei dos anos 90, mais especificamente uns jogos contra o grêmio. Não levei em consideração que os anos 90 foram os anos 90, e os anos 2000. Bom...

Não sei se tenho mais esperança. Mas sem ela não há sentido em minha paixão. E como diz uma das minhas cenas preferidas do cinema, uma paixão é uma paixão. Tenho ao menos a esperança por saber que tempos difíceis geralmente passam. Espero que o Palmeiras não seja uma exceção ao geralmente. Uma derrota é apenas uma derrota, por mais humilhante que ela seja. Uma derrota deixa de ser apenas uma derrota quando tudo que se tem é a esperança de que “agora vai”, mas nunca vai.

Ser torcedor é torturar-se a cada temporada, a cada campeonato, com alguma chance de momentos felizes - por mais vitorioso e grande que seja seu time, a chance geralmente não é das maiores. Às vezes é difícil viver assim, já que ser torcedor é ser um apaixonado – e não há apaixonado que não seja fanático, obcecado, irracional.

Tenho um primo de 6 anos. Cresceu um pouco com minha família - até a cadela comemora gol do Palmeiras-, um pouco com os pais. Mãe, daquelas mais decepcionantes, palmeirense, pai corintioso. Ao contrário do irmão, gambá, sempre teve dúvidas sobre qual time escolher. Nós do Passione Verde fizemos de quase tudo. Faltou levar ao jogo por falta de autorização. Demos presentes, incentivamos, contamos histórias. Mas ele continua vestindo a camisa do Kléber, pedindo para eu levá-lo a um jogo, e comemorando gol do Corinthians – cantando, inclusive, o hino dos caras no domingo. Não dá. Como disse a ele no domingo, e um palmeirense bem conhecido também o disse nessa semana, ou você é palmeirense ou não é. E quando é... Não tem jeito, você pode até tentar se afastar, pode fingir que não se importa, pode ficar calejado ao passar dos anos e nem reagir mais como quando criança. Você pode deixar os estádios por um tempo. Pode dizer que não acredita. Mas no próximo jogo vai torcer como se fosse o último. Porque uma paixão é uma paixão. E essa é a minha paixão, em momentos vitoriosos ou não. Em vitórias fáceis, em vitórias sofridas, em derrotas heróicas, em derrotas vergonhosas, não tem coisa na vida que mude, essa é minha paixão.

Obs.: Não encontrei os créditos da imagem. Caso seja autor (a), nos avise por comentários.

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