domingo, 5 de abril de 2009

Sobre aquele rei que um dia foi tratado como anão

Conta a bíblia que em Israel, nos tempos antigos, no reino de Saul, havia um jovem, pequeno e frágil, pastor de ovelhas que passava seu tempo livre compondo e tocando músicas, fazendo versos... Tratava-se do mesmo garoto que, sob o comando de deus, o profeta Samuel teria ungido para um dia ser rei de Israel (seria, então, rei ungido, que esperava o momento de reinar). Disso poucos sabiam, e Davi seguia sua vida simples, seu ofício de jovem pastor.

Eram tempos de guerra e os israelitas estavam em apuros contra os filisteus, estes últimos contavam com um gigante, Golias, invencível que espalhava temor.

O jovem Davi, visitando o acampamento de guerra israelita, onde encontravam-se seus grandes e fortes irmãos mais velhos, ao ver a forma como o gigante ameaçava e zombava do povo de Israel, propõe lutar contra este. É claro, ninguém acreditou, Davi era moço e pequeno, sequer tinha experiência como guerreiro. Porém, este afirmou que já havia matado um leão e um urso, o gigante filisteu seria como um deles. Na falta de um grande soldado que tivesse coragem de enfrentar aquele que os desafiava (chamava um homem para lutar com ele, o povo ao qual o perdedor pertencesse seria servo do povo ao qual pertencesse o vencedor), foi Davi mesmo, sozinho, pequeno, com suas vestes de pastor (o rei até tentou oferecer sua armadura, mas o rapaz era pequeno demais e alegou não estar acostumado com armaduras e espadas), carregado de muita coragem e munido de um cajado e cinco pedras recolhidas no ribeirão. Era sua melhor armadura, a que lhe era conveniente.

É claro que o gigante riu, é claro que duvidou da pequenez do pastorzinho ruivo que sequer imaginava que um dia seria o maior rei de seu povo. Enquanto acreditava que esmagaria o pequeno rapaz, uma pedra ainda menor atingiu sua testa, o feriu de morte e deu a vitória a Davi, ao povo de Israel que tornou-se senhor dos filisteus.


Apesar de cética a respeito de qualquer poder divino/superior e religiões, sempre vejo as histórias bíblicas como parábolas que muito nos ensinam.


É feio, muito feio e baixo, quando a guerra do futebol ultrapassa os limites do jogo, do futebol limpo e bonito... Seria bom que sempre nos lembrássemos disso. Seria bom que os times (e a torcida também!) soubessem sempre ofender (e responder certas ofensas) com o melhor futebol (e a melhor manifestação de ‘torcida que canta e vibra’) possível.


Ousando sugerir algo ao que Vanessa, amiga que não sem motivo há anos costumo chamar de ‘Idola’, escreveu sobre o jogo do dia 08/04 contra o Sport, diria que queremos batalha também, mas uma batalha respeitosa, corpo a corpo (como faziam os cavaleiros de outrora), cuja única arma de ofensa e “morte” seja algo que envolve um bom jogo de corpo, muita técnica, raça, coragem, determinação e persistência, a bola, o gramado, dois times dignos e duas torcidas vibrantes: o futebol (me perdoem se me fugiu algo de essencial).


Não desmerecendo todos os nossos grandes momentos de glórias, de vitórias, de alegrias, muito menos os maus momentos que (espero!) muito nos ensinaram (derrota também é História), também não menosprezando o Sport e sua própria História e experiência, como historiadora em formação ouso afirmar que a História, como diria o velho filósofo (Nietzsche) é musa, a história engana, a história trapaceia. Sim amigos, a história muitas e muitas vezes dá um nó, quebra supostos destinos, estraga planos, derruba os grandes e acostumados com a vitória, eleva os esquecidos, enfim, nos trapaceia. A história, arrisco-me a dizer, está menos para provar linearidades ou permanências de grandes feitos ou mostrar inesperadas rupturas, quanto para nos lembrar que nada, jamais, pode ser totalmente previsto e esperado tendo como base somente aquilo que já se foi.


Independente de picuinhas, estaremos todos (se a história não nos der um grande golpe de surpresa), Palmeiras e Sport disputando no gramado, nos dias 8 e 15. A história, infelizmente, hoje não pode dizer desta batalha quem sairá morto e quem sairá vencedor. Porém, desde hoje podemos começar definir quem vai agir como o gigante que gasta o tempo que poderia lutar determinado a zombar e assustar o adversário, a menosprezar seu poder... Podemos diferenciar o gigante que ri do rapazinho ignorando que este é rei e toma uma pedrada certeira na testa de seu orgulho, de quem agir como o pequeno rei corajoso, determinado, que ao invés de ficar louvando seu status responde àqueles que zombaram de sua ousadia afirmando que já matou um leão, que já matou um urso, que pode lutar e vencer. Aquele rapazinho que, àqueles que ignoravam e aos que não respeitavam (sua família) sua posição de rei, soube responder vestido com sua melhor armadura, armado com sua melhor munição, impulsionado por sua coragem, por sua experiência peculiar, atirando uma pedra inesperada (que, com um pouco mais de atenção poderia ser evitada) no meio da testa erguida do orgulhoso que se dizia gigante e superior.


Espero eu que o Palmeiras se prepare, que nesse momento não pense que sua grandeza é suficiente (única necessária) para definir futuras vitórias, que não se distraia rindo da pequenez do adversário diante de sua grandeza e que saia com sua melhor forma, vestido com sua melhor armadura, munido de seu melhor futebol, auxiliado por sua torcida vibrante e apaixonada, e, ao Sport que ameaça uma guerrinha infantil, à todos aqueles que menosprezam nosso lugar, que menosprezam nossas belas histórias do passado, à imprensa que ignora nossa posição, enfim... Que à todos estes o Palmeiras diga que já matou um leão, que já matou um urso com as próprias mãos, que não treme diante de nenhum gigante, que não teme nenhuma ameaça, que não oscilará diante da vitória por mais que o inimigo seja assustador. Que o Palmeiras mostre por atitudes porque é Rei, campeão do mundial, o campeão do século XX (pelo qual o século XXI não perde por esperar).


Hoje a história, queridos palestrinos, talvez não sirva muito pra definir quem cairá e quem sairá erguido dessa “batalha”... Mas, sem duvidas, serve para nos ensinar experiências do passado. Que no futuro sejamos lembrados pela musa como aqueles que souberam responder aos adversários à altura de quem somos e não à altura da pequenez de suas idéias sobre nós.




créditos das imagens: palestrinos; globo.com, Custódio Dias.

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