domingo, 11 de julho de 2010

E VIVA A ESPANHA!

Já houve um tempo em que o melhor vencia sempre. Os tempos mudaram. O futebol mudou. As equipes investiram na força física, na tática, e em tudo mais que fizesse o esporte bretão ficar irritantemente competitivo. Todos podem ganhar, até os ruins. Um futebol “democrático” que derrubou o Brasil de Telê em 82. Desde então, nem sempre o melhor vence. E assim o Brasil se convenceu que precisava mudar, se igualar à “democracia”, produzir brucutus marcadores ao invés de craques que jogam de cabeça erguida, que pensam. Não interessa a genialidade sem os músculos. Não interessa o bom futebol sem os resultados. A vitória de Paolo Rossi mudou a maneira do mundo ver futebol e todos quiseram copiar a competência italiana, até quem não deveria. Há exatos 28 anos, na Espanha, a Itália venceu a Alemanha e se sagrou tricampeã mundial. Nesse 11 de julho a mesma Espanha, sede em 82, provou que bom futebol e vitória são sim sinônimos, que é possível conciliar os dois. Provou algo que não era necessário provar, mas que todos se negavam a ver. Que agora o mundo siga o exemplo certo e que o futebol volte a pertencer aos melhores. Não custa nada sonhar.

Essa Copa do mundo ficará marcada por quebrar muitos tabus e por coisas impossíveis. Quem se esquecerá da cobrança de pênalti de Asamoah Gyan na trave, justamente no último minuto da prorrogação? E da bola de Lampard que entrou 33 cm contra a Alemanha, mas o gol não foi validado? E o fato de uma Copa do mundo ser decidida por duas seleções que nunca foram campeãs mundiais, algo que não ocorria desde 78? Marque mais uma: nunca houve um campeão derrotado na estréia. Até hoje. Espanha e Holanda eliminaram favoritos, como Alemanha e Brasil, e chegaram à final com propostas diferentes. A espanhola era de atacar, tocar a bola e se manter paciente. A holandesa era de contra-atacar, também se manter paciente e bater. E como bateu. Van Bommel já merecia ser expulso por entrada violenta em Iniesta, mas De Jong mostrou o que realmente é “ficar no lucro”. Num lance à la “Karate Kid”, o holandês meteu as travas da chuteira no peito de Xabi Alonso, mas ficou apenas num absurdo cartão amarelo.

Pra não dizer que a Holanda é apenas isso, Van Persie participou de um bonito lance de fairplay. Heitinga, que teria que devolver a bola para a Espanha, quase pegou Casillas desprevenido, fazendo com que o goleiro espanhol desviasse para escanteio. O camisa 9 da Holanda foi à linha de fundo e bateu tiro de canto, devolvendo a bola para a seleção espanhola. E também teve suas chances. A mais clara delas foi na segunda etapa, com Robben. O cai-cai holandês recebeu um lançamento lindíssimo de Sneijder, mas na hora de finalizar parou nos pés de Casillas. Mas quem desperdiçou chances atrás de chances foi a Espanha, com seu já conhecido “preciosismo”. Ao invés de chutar pro gol e fazer o mais simples, os espanhóis sempre tentaram um algo mais nas jogadas. Por essa e por outras, que pela segunda edição seguida, uma Copa do Mundo foi para a prorrogação.

Del Bosque colocou Navas e Fábregas na equipe, o que melhorou as jogadas ofensivas espanholas. E foi do camisa 10 a chance mais perdida da Espanha no jogo, já na prorrogação. Recebeu um belo passe de Xavi e parou, assim como Robben, nos pés do goleiro holandês, Stekelenburg. Durante o tempo extra o predomínio foi espanhol. Fernando Torres, que fez uma Copa muito abaixo do que pode já que vem voltando de contusão, entrou no lugar de Villa, que não fez uma grande partida. Não mudou muita coisa. Todos já começavam a pensar que a Copa seria mais uma vez decidida nos pênaltis. Talvez em outras Copas, mas nesta não. Aos 13 do segundo tempo da prorrogação, Iniesta iniciou uma jogada com toque de calcanhar no meio campo e depois de cruzamento de Torres ser tirado pela zaga holandesa, a bola sobrou para Fábregas. E aí a Copa foi decidida. O meia do Arsenal rolou para o camisa 6, que bateu e nem o gigante Stekelenburg conseguiu segurar. Gol do título inédito espanhol. A Holanda até quis reclamar um possível impedimento, mas nem no primeiro lance Iniesta estava impedido. Festa espanhola na África do Sul.

A Espanha não foi exuberante, mas não foi medíocre. Não mudou seu jeito de jogar em nenhuma circunstância, nem mesmo depois da inesperada derrota para a Suíça na primeira rodada. Manteve-se paciente, tocando a bola, esperando o momento certo, a jogada certa, e fez o necessário para levantar a bonita taça da FIFA. Jogou um futebol bonito, porém simples. E se aproveitou que tinha em mãos a melhor seleção de sua história. Era o momento espanhol e não poderiam deixar essa chance escapar. Não deixaram. A Fúria chegou aonde chegou porque formou jogadores de qualidade, fez grandes seleções de base e se fortaleceu ainda mais desde a conquista da Euro. Del Bosque não teve medo de apostar, mas também não temeu bancar seus antigos titulares. Que dirá Casillas, que sofria com uma corrente da imprensa que pedia Valdés como titular. Foi escolhido o melhor goleiro da Copa com todos os méritos e hoje chorou como criança ao ver sua seleção ser campeã do mundo. A Espanha venceu porque mereceu vencer e porque era melhor. É a melhor seleção do mundo na atualidade. Bem-vinda Fúria, ao seleto grupo de campeões mundiais!

Créditos da foto: Folha de São Paulo. 

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