quinta-feira, 8 de julho de 2010

LA FÚRIA ROJA

Poderia ser título de filme hollywoodiano, mas não é. Trata-se de uma seleção, um time de futebol, que nos tempos de força física e futebol-resultado, mostra que não é necessário mudar seu jeito de jogar para chegar às conquistas. A Fúria não tem um passado vitorioso, estrelas no peito ou quão menos experiência em decisões. A camisa é leve. Já a Alemanha, que passou atropelando Inglaterra e Argentina, tem uma camisa pesada, com diversos títulos, de grandes equipes e jogadores. Uma história invejável. Mas a história jamais permanecerá intacta, ela se renova. A espanhola está sendo escrita diante de nossos olhos, com bom futebol e com uma prova: a camisa pesa sim, mas só para os fracos. E a Espanha, “amarelona”, pode levantar a taça da Copa do Mundo, enquanto tem time aí que nem em final de Libertadores chegou ainda. Ô dó!

Já se sabe que a Copa do Mundo da África do Sul terá um campeão inédito. No domingo entrarão em campo duas seleções “virgens”, e uma especificamente que nem perto da hora H havia chegado. A Fúria tinha no caminho para sua primeira final a renovada seleção alemã e o estigma de amarelar em jogos difíceis. E digamos que havia certo favoritismo para a Alemanha, já que os comandados de Joachim Löw passaram como um rolo compressor sobre ingleses e argentinos. Tudo isso é passado, mesmo que recente. Quando o juiz apitou e a partida começou, quem se fez grande foi a Espanha. Dominou a posse de bola, criou jogadas, teve paciência, quase não levou sustos e quando levou teve Casillas para garantir lá atrás. Os alemães ainda podem se queixar da ausência de Thomaz Müller, que levou seu segundo amarelo diante dos hermanos e desfalcou a engrenagem germânica diante dos espanhóis. Embora Vicente Del Bosque também possa reclamar, já que um de seus principais jogadores, Fernando Torres, ainda nem veio à Copa.

Na base do toque de bola, a Espanha dominou todo o primeiro tempo e com uma exibição bem melhor do que contra o Paraguai, pelas quartas de final. Del Bosque colocou El Niño Torres no banco para a entrada do ótimo e jovem Pedro, mais um do Barcelona. E deu certo. O espanhol deu muito trabalho para a excelente defesa alemã, embora Villa tenha rendido menos devido a mudança de posicionamento. Mesmo com domínio, nada de gols. A rede só foi balançar na segunda etapa. A Alemanha parecia outro time, muito diferente daquele que venceu Inglaterra e Argentina. Nem seus contra-ataques mortais pegaram a Fúria desprevenida. Teve somente uma grande jogada, que passou por Özil, Podolski e Kroos, mas parou numa bela defesa de Casillas. Enquanto isso, os espanhóis pressionavam. Com finalizações de Xabi Alonso e Pedro, a Espanha perdia chances, mas se aproximava do gol a cada lance. E ele veio. Não teve jogada trabalhada, nem foi um golaço. Foi simples e suficiente. E foi de Puyol. O zagueiro do Barça subiu mais que todo mundo, praticamente voou para cabecear o escanteio preciso de Xavi. Uma paulada, sem chance para Neuer.

Com o gol espanhol, finalmente a Alemanha teve que sair da toca. E saiu tanto que poderia ter perdido de mais. Aliás, deveria. Pedro recebeu um lindo lançamento de Xavi e pegou a defesa alemã toda aberta. Só tinha duas excelentes opções: ou chutava e marcava ou então rolava para Torres, que havia entrado no lugar de Villa, livre e com o gol escancarado à sua frente. Mas ele inventou uma terceira opção: tentar um corte no zagueiro e enfiar a bola no rabo. De castigo, acabou substituído por David Silva. Os alemães apertaram, mas não teve jeito. Era “dia de Fúria”. Final de jogo e classificação inédita para a final. Desde 78, quando Holanda e Argentina decidiram o mundial, uma Copa do Mundo não é decidida por duas equipes sem o título no currículo.

A Espanha se manteve com o mesmo ritmo em que venceu os últimos cinco jogos e que também perdeu na estréia contra a Suíça, no resultado mais injusto da Copa. A diferença foi uma garra, uma vontade que ainda não tinha sido vista nessa seleção de Del Bosque. A Fúria mostrou hoje que a melhor maneira de se respeitar o adversário é jogar para vencê-lo. Respeito pelo torcedor e pelo futebol acima de tudo. Respeito por seu estilo de jogo. Respeito por sua leve, porém honrosa camisa. Já a Alemanha jogou pouco, mais por culpa da seleção espanhola do que de si própria. Domingo é fato que veremos um campeão inédito, mas ainda mais fato é que veremos um campeão por merecimento. As duas finalistas aí chegaram porque fizeram por merecer. A competente Holanda contra a lúdica Espanha, quem leva? Lembrando que nunca houve um campeão que perdeu o jogo de estréia, caso da Espanha... Grande bosta. O que vale é bola rolando e mais nada.

Créditos da foto: El País.

Nenhum comentário:

Postar um comentário