quarta-feira, 7 de julho de 2010

QUANDO BRILHAM AS ESTRELAS


Não, embora o título possa sugerir, não foi um grande jogo marcado por lances geniais de craques igualmente geniais. Isso não quer dizer que foi chato, ruim, sem emoção... O que quero dizer é que, em uma Copa marcada pela falta de grandes estrelas em várias das maiores seleções, ou pela falta de brilho de tantos outros candidatos a melhores do mundo, na semifinal entre Holanda e Uruguai o brilho das “estrelas do time”, aqueles jogadores que podem fazer a diferença em momentos de “escuridão”, se destacou nos fatores que levaram ao resultado final. Afinal, se a Holanda fez um jogo muito diferente do que vinha realizando, isso em grande parte determinado pela forte marcação do Uruguai, contou com a efetividade de seus principais jogadores no momento em que precisava. Já a equipe celeste depende demais, e quase que exclusivamente, do poder ofensivo de seu camisa 10 – principalmente com a falta do goleiro da Copa, o camisa 9 Suárez -, e contar demais com apenas um jogador é algo perigoso.

Imagino que não importa tanto falar que a última final da Holanda, que jamais foi campeã do mundo, aconteceu há 32 anos; ou que o bicampeão Uruguai não vê a taça desde 1950. É o jogo que decide a vaga na final, final decide taça, é importante tanto para os “virgens” quanto pra quem já venceu uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Não há seleção acostumada com isso, embora tenha um sabor especial quando “gente diferente” tem chance. A Holanda, apesar da falta de títulos, não é considerada zebra pela história no futebol e pela qualidade do time técnico, com bom toque de bola e alguns jogadores que desequilibram. Atualmente tem um time bom, que resolve, não ficaram 25 jogos sem perder por mero acidente e sempre foram considerados, pela qualidade, um dos favoritos nessa Copa, apesar de muitos destacarem o fato de não serem campeões como ponto que desfavoreça.  Por outro lado, o Uruguai tem um time mediano, com alguns bons jogadores e apenas um destaque, Forlán. Tecnicamente é o pior time dessas semifinais, mas demonstra a raça e determinação que todas as seleções deveriam ter em Copa do Mundo. E foi por essas qualidades honrosas que a celeste ganhou minha simpatia e minha torcida, assim como de muitos outros brasileiros. Mas, infelizmente, e com certa justiça, já que a Holanda tem um time melhor, não deu.

Bola rolando, o Uruguai formou um paredão que dificultava até mesmo o belo toque de bola Holandês. Em determinados momentos do jogo, a Holanda foi até um tanto quanto irreconhecível, dada a quantidade de passes errados. Culpa da forte e eficiente marcação uruguaia. Mas, se a marcação era boa, a criação deixou a desejar. Além da, também forte, marcação holandesa, a equipe celeste ainda teve que enfrentar as dificuldades de Forlán e Cavani em criar opções ofensivas. Ambos erraram passes e perderam o tempo da bola em várias ocasiões. E já que os times estavam espertos defensivamente, o negócio era arriscar de fora da área. Foi assim que Van Bronckhorst marcou, aos 18 minutos, em belo chute que, antes de entrar, bateu caprichosamente no canto direito do gol.  Com 1x0 para os laranjas, os celestes apertam ainda mais a marcação. E só lá pelos 30 minutos que o Uruguai passou a buscar gol de forma mais incisiva, tendo que superar a forte retranca de uma Holanda toda recuada e esperando contra ataque. Foi assim que saiu outro gol de fora da área, dessa vez dos pés de Forlán. O camisa 10 celeste acertou uma bomba de pé esquerdo e o goleirão holandês até tocou na bola, mas não teve jeito, gol de esperança para o Uruguai.

No primeiro tempo foi isso. O Uruguai, com menos chances de gol, conseguiu segurar bastante o time holandês e garantiu o empate.  Destaque para a força de decisão de Forlán, que ainda fez bela cobrança de falta defendida pelo goleiro, e para o lateral esquerdo (que originalmente joga pela direita) Cáceres, que esteve bem na marcação e buscando muito por opções ofensivas. Já a Holanda, embora sofrendo com a marcação adversária, teve algumas boas chances, contando bastante com a visão de jogo de Kuyt, um atacante técnico que “joga para o time”. Van Persie, Sneijder e Robben até colocaram perigo, porém, para resolver o jogo, faltava mais.

No segundo tempo a Holanda voltou com o meia Van de Vaart no lugar do volante De Zeeuw, o que resultou num Sneijder, o camisa 10 artilheiro e destaque holandês, com maior liberdade ofensiva. E foi com ele que veio o segundo gol. Aos 25 do segundo tempo, o meia recebeu a bola pela esquerda, cortou e chutou no canto direito do gol. A Jabulani bateu em Van Persie, impedido, o que atrapalhou o goleiro, mas o juiz validou. Três minutos depois, Kuyt fez ótimo cruzamento pela esquerda e Robben não desperdiçou. Gol de cabeça que praticamente decretava a classificação holandesa.

Quinze minutos para fazer o que foi difícil realizar durante o jogo todo, dois gols, com o camisa 9 suspenso, dificuldades na criação e uma Holanda fazendo de tudo para segurar o resultado. Impossível? Para alguns amarelos, o empate laranja pode fazer tremer, mas os uruguaios mostraram a bravura de campeões e lutaram até o final. Sem destempero, mais uma vez de forma bonita, buscaram força para virar um resultado desfavorável. O técnico Oscar Tabárez trocou Alvaro Pereira por Loco Abreu e, não se sabe se por problemas físicos, Forlán pelo atacante Fernández. Se com Forlán estava difícil, sem ele ainda mais. Mas nem por isso os celestes desistiram. E foi de tanto tentar que saiu o gol de Maxi Pereira, já nos acréscimos, aos 47 do segundo tempo. Em cobrança de falta, Pereira recebeu a bola na entrada da área, chutou, marcou e colocou fogo na partida. Se a esperança é verde, hoje ela foi “azul celeste”. O juiz, que tinha dado três minutos de acréscimos, deixou o jogo rolar até os 50. E os uruguaios, que não são bobos nem nada, lutaram incessantemente até o último segundo de desespero holandês.

Apesar da honra uruguaia, a festa hoje é nos Países Baixos. Verdade seja dita, o time holandês não é uma laranja mecânica, mas é melhor que muita seleção por aí, inclusive o bravo time uruguaio. Kuyt, Robben e Sneijder podem não ter o talento de um Johan Cruijff, mas são bons jogadores e decisivos como poucos craques nesse mundial. Embora a raça celeste seja de “dar inveja” a qualquer um cuja seleção nacional tenha um time melhor - mas sem nada dessa força necessária -, há momentos em que prevalece a capacidade daqueles que se fazem brilhar quando a coisa aperta, daqueles que resolvem quando a situação é complicada. Esse é o verdadeiro brilho das estrelas, mesmo que essas estrelas não sejam aquelas que recebem prêmios, maior destaque nos jornais e em campanhas publicitárias.

Agora é esperar o resultado entre a fúria espanhola e a fábrica de chocolates alemã. Será reedição de 74 ou final inédita? Alemanha é favorita, pelo time e pela camisa, mas numa Copa em que vi seleção tradicional e campeã literalmente amarelando, Maradona separando briga, Eslováquia nas oitavas, estadunidense aprendendo a torcer por futebol e Suíça assustando favorita, eu não duvido de mais nada. E confesso que, independente do resultado, a minha torcida estará no time que vencer o jogo desta quarta-feira.

Crédito da imagem: UOL.


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