quinta-feira, 26 de agosto de 2010

96 ANOS DE PAIXÃO E MUITAS HISTÓRIAS PRA CONTAR – PARTE 6 – JOTA CHRISTIANINI


Jota Christianini, Historiador do Palmeiras, pessoa especial, grande palmeirense, sempre tem um bom causo para nos contar. Hoje conta algo especial de sua história como palmeirense. Os 96 anos de Palestra/Palmeiras significam 96 anos de histórias. Pequenas e grandes histórias de Palmeiras e de Palmeirenses, afinal, também fazemos parte de tudo isso e cada um de nós coleciona causos e lembranças especiais. Uma vitória, um título, uma derrota ou, até mesmo, um “simples” gol, momentos fundamentais e “mágicos” na vida de uma pessoa apaixonada. Momentos que fazem desta data, 26 de agosto, motivo de comemoração e emoção para cada pessoa participante desse enorme grupo de milhões, que muitos chamam “palmeirenses”, mas preferimos chamar por “nós”. E o gostoso disso é que cada um de nós aproveita do prazer daquela história especial do outro como se fosse sentimento seu. Só um apaixonado pode compreender a emoção de outro. Sem mais delongas, vamos ao que o menino Jota tem a nos contar...

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MINHA PRIMEIRA VEZ NO PALESTRA
Por Jota Christianini

O tempo passa, diria o Fiori Gigliotti.

Há 55 anos, dia 1º de outubro de 1955, entrei pela primeira vez no estádio Palestra Italia. Campo antigo, com alambrado, mais perto das piscinas, que  estavam sendo construídas. Tarde de sábado, o jogo já tinha começado, descemos do bonde, entrada dos sócios, então uma pequeno portão na Rua Turiassu. Chegamos ao campo, aquelas camisas verdes chamando atenção, o Palmeiras atacava. Meu tio nos arrastou para o alambrado, Liminha entrou na área pela meia direita e arrematou. Gol do Palmeiras! Liminha comemorou correndo em minha direção.

Sempre acreditei que só fez o gol porque me viu chegar. Conto esta historia há 55 anos, ninguém ousou desmentir, nem há de! Liminha era irascível, encrenqueiro, mulato, bom de bola nos tempos do não politicamente correto, ninguém lhe passava as mãos na cabeça. Até porque, quem tentasse, perigava levar uma cabeçada. Estreou em 51, pouco antes da Copa Rio, marcando cinco gols no Flamengo numa goleada de 7x1. Depois marcou o gol, de bola e tudo, que deu o Mundial de 51 ao Palmeiras, mas, mesmo assim, era o mais visado.

Nas confusões mais filosóficas a culpa era do Jair, nos bate-bocas mais acirrados o Liminha, invariavelmente, era protagonista.

Morreu há mais de 20 anos; ironicamente perto de onde hoje está a Academia  do Futebol, CT do Verdão, na Lapa de Baixo.

Corta a cena; Festa dos veteranos de 2007, numa sexta-feira de setembro.
Recebo o aviso: a irmã do Liminha acaba de receber a medalha.

Parto para a mesa onde ela está. Entre 4 amigas, elegantemente vestidas, nem preciso perguntar quem é a irmã do Liminha,  Eugênia. Tá na cara!

Fico sabendo que os filhos e netos do Liminha são  todos formados,  pesquisadores da Universidade, professoras, um deles médico; enfim, uma família bem constituída, de sucesso e progresso.

Não resisto e conto  para Eugênia que Liminha foi meu ídolo, comento o gênio que ele tinha, ela confirma que nunca foi de levar desaforo para casa e falava o que achava na frente de quem fosse. Conto o caso do primeiro gol que assisti, há cinco décadas, na primeira vez que fui ao Palestra Itália, e que acredito, nesse tempo todo, que Liminha só fez o gol porque me viu chegar. Ela bate de sem pulo.

--- Sabe Jota o Liminha sempre comentou que só fez o gol porque te viu chegar!

Fecha a luz, apaga a porta; não preciso de mais nada.

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