terça-feira, 7 de setembro de 2010

HÁ 45 ANOS, E PELA PRIMEIRA VEZ, ELA VIU O PALMEIRAS EM CAMPO


Todos os anos, no dia 7 de setembro, acontecia um ritual. A família Simonini acordava cedo, o pai ostentava com orgulho sua vestimenta militar e iam todos para a avenida assistir ao desfile da Independência. Mas, em 1965, isso não aconteceu como previsto.

A notícia se espalhou como um raio por Minas Gerais e inflamou os ânimos de muita gente. Todos sabiam que o Palmeiras era o melhor time do Brasil, mas ninguém poderia admitir que inaugurasse o Estádio Magalhães Pinto, o “Mineirão”, ainda mais representando a seleção brasileira. Era ultrajante. Por que não o Atlético ou o Cruzeiro? Ou até mesmo um time misto?

Mas havia uma pessoa encantada com essa situação. Alguém que o Palmeiras escolheu no meio de uma família de atleticanos e cruzeirenses. O pai nunca conseguiu entender o porquê da escolha, muito menos porque ela nunca gostou dos times de Minas. Desde pequena, a caçula da família Simonini criou um vínculo de paixão pelo time alviverde e ninguém conseguiu demovê-la desse sentimento. E quando Cecília soube que o Palmeiras seria o Brasil, e na sua terra, não conseguiu conter a emoção e o entusiasmo. Ela tinha que estar lá.

O pai não gostou nada da história. Não deixaria sua filha de 15 anos ir ao estádio ver um jogo de futebol, ainda mais num dia tão importante. Mas ela implorou, chorou, esbravejou, tentou amaciar as duras fibras daquele oficial condecorado. Nada parecia atingir aquele homem, até que a mãe interferiu e disse que iria ao jogo com ela. Durante alguns segundos, não havia cor no rosto de Alberto, mas não houve tempo para se restabelecer.  Lourdes simplesmente disse: “se quiser ir conosco, ficarei feliz”.

Como explicar a emoção de uma palmeirense que, pela primeira vez na vida, veria seu time em campo? Não seria com o uniforme tradicional, mas a fibra palestrina estaria lá, nada mais importava. Cecília estava tão eufórica que não dormiu. O pai ainda tinha o dever militar a cumprir, mas a “ovelha verde” não foi, não conseguiria ficar sentada assistindo às comemorações, não hoje. E, para ela, parecia que havia se passado uma eternidade quando os pais voltaram. Mas os ingressos já estavam reservados.

A menina foi de camisa verde. Quando percebeu que não era a única a ostentar a cor, se emocionou. Olhava para os “companheiros” e sorria, e todos se entendiam. Era incrível.

Ela sabia o nome dos jogadores. Conhecia todos, pois jogavam sempre em sua mente. Como conter as lágrimas vendo Valdir de Moraes, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina, Ferrari, Dudu, Divino, Julinho, Rinaldo, Tupãzinho e Servílio? Como tirar os olhos de Filpo Nuñes, o primeiro estrangeiro a dirigir a seleção brasileira? E que time no Brasil tinha no banco nomes como Picasso, Procópio, Santo, Zequinha, Germano, Ademar Pantera, Dario e Gildo? Nem Alberto conseguiu manter a pose diante de tão belo espetáculo. Aplaudiu, torceu e marejou os olhos. Ficar impassível àquele turbilhão de emoções era impossível. Nada apagaria aquela vitória linda sobre a seleção Uruguaia, detentora de 2 títulos mundiais, de forma tão consistente e magnífica. Como um time poderia envergar de forma tão imponente aquele uniforme? Quem tinha a resposta era a pequena garota, que virou para o pai e disse: “Pai, o Palmeiras sabe ser brasileiro”.

Foi a primeira vez que ela assistiu a uma partida do Palmeiras, e mesmo assim era uma palmeirense ardorosa. Viu o seu time fazer 3x0 na seleção uruguaia, um show de bola, inesquecível, inimaginável. Filpo fez 5 substituições no segundo tempo e o time continuou avassalador. Isso sim era time de verdade.

Cecília estava em êxtase, mas não poderia sequer imaginar o que ainda aconteceria. Seu pai não perdeu a chance de vê-la ainda mais feliz. Não estava uniformizado, mas isso não era necessário, todos o conheciam. Ele a levou para conhecer seus heróis. E pela primeira vez viu o que significava realizar o sonho de sua filha. Não havia dinheiro no mundo que pudesse substituir aquele momento mágico. E apenas naquele instante ele notou que Cecília era diferente, nunca tinha visto tanta paixão por algo que nunca vira na vida. Então ela virou pra ele e apenas disse: “sou palmeirense, e isso já diz tudo”.

Crédito da foto: Série L! Grandes Clubes – Edição Especial 2005

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